<p>O empresário Manuel José Godinho, de Ovar,ligado ao sector dos resíduos e das sucatas, detido ontem pela PJ de Aveiro só vai ser presente ao juiz de instrução criminal de Aveiro, nas instalações do DIAP amanhã, segundo fonte judicial.<br /></p>
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Manuel José Godinho, de 55 anos, é o único detido da operação policial desencadeada ontem pela PJ de Aveiro num processo de corrupção, em que estarão também envolvidos o antigo ministro Armando Vara e o advogado Paulo Penedos.
O antigo ministro e actual administrador do Millennium-bcp, Armando Vara, é um dos 13 arguidos por suspeitas de corrupção, tráfico de influências, fraude fiscal e associação criminosa.
Em causa está a actividade de um grupo empresarial com sede em Ovar ligado ao sector dos resíduos industriais e sucatas (ver ficha). Em concreto, estão sob suspeita negócios com empresas públicas e participadas pelo Estado - Refer, REN, Galp, entre outras -, em que aquele grupo terá sido supostamente beneficiado, mediante contactos ao mais alto nível.
Escutas telefónicas efectuadas pela PJ no início do ano, conjugadas com movimentos bancários de vários intervenientes, levaram à detenção de Manuel José Godinho, dono do grupo a que está ligada a "O2 - Tratamento e Limpeza Ambientais S. A.", bem como a constituição de mais 12 arguidos, entre os quais Armando Vara e o advogado Paulo Penedos, também filho do presidente da REN, José Penedos.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, os despachos judiciais que sustentam os mandados de busca ontem cumpridos - cerca de 30 em Aveiro, Ovar, Feira, Lisboa, Oeiras, Sines, Alcochete, Faro, Ponte de Sôr e Viseu - aludem a uma conversa, de 23 de Maio passado, referente a um suposto pedido de 10 mil euros, em notas, por parte de Armando Vara a Manuel Godinho, como alegada forma de compensação por suposta "abertura de portas" para informações, trabalho e contratos com empresas públicas.
Mas o montante mais elevado referido no processo está relacionado com Paulo Penedos. Este jurista ligado ao PS - e causídico de pelo menos uma firma de Godinho - é referenciado como tendo recebido, no total, 270 mil euros, como alegada contrapartida por negócios com a empresa presidida pelo pai. Conversas tidas como relevantes pela PJ aconteceram a 5 e 20 de Fevereiro passado. Confrontado pelo JN, Paulo Penedos confirmou ser arguido. Mas explicou tal dever-se ao facto de ser "advogado de uma das empresas", de Manuel Godinho.
Indícios até agora recolhidos, em investigação centralizada na PJ de Aveiro, dão conta de que terá havido influência daquele advogado na obtenção de informação antecipada sobre concursos e consultas públicas, bem como na renovação de contrato de gestão de resíduos da REN.
Os demais arguidos são altos quadros de sociedades de capitais públicos. Mas nestes casos as empresas aparecem como lesadas - e não envolvidas em crimes. Por essa razão, as buscas foram efectuadas primordialmente a locais de trabalho. Paulo Penedos foi buscado, também, num gabinete na Portugal Telecom.
O Ministério Público e o juiz de instrução criminal que autorizaram as buscas a empresas e residências dos vários suspeitos dão como suficientemente indiciados crimes de corrupção, tráfico de influência, participação em negócio, fraude fiscal e associação criminosa.