<p>Pinto da Costa garante que o encontro suspeito com Augusto Duarte, a 16 de Abril de 2004, em sua casa, aconteceu a pedido do árbitro por causa de um "assunto familiar e particular" que mantém, para já, em segredo</p>
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No início do julgamento no Tribunal de Gaia, em que, a par do árbitro e do empresário António Araújo, é acusado de corrupção desportiva, o presidente do F. C. Porto alegou que a visita nada teve a ver com o jogo que iria realizar--se, dois dias depois, em Aveiro, contra o Beira-Mar. Até porque, segundo explicou, naquela altura já "sabia que estava sob escuta".
"O encontro tinha sido pedido antes de saber que ele foi nomeado. E se fosse para combinar algo de ilícito, não o teria feito através do telefone e em minha casa", disse o dirigente portista, perante a juíza Catarina Ribeiro de Almeida, insistindo no interesse diminuto da equipa naquele jogo.
"Sabíamos que para sermos campeões só precisaríamos de ganhar dois jogos em casa. Na altura, disse a António Araújo que ainda bem que o jogo com o Beira-Mar não é importante, se não a presença do árbitro poderia gerar especulações".
Sobre o teor do encontro, Pinto da Costa limitou-se a dizer que a conversa durou cerca de dez minutos, a sós, com o árbitro Augusto Duarte, e que se tratou de um "assunto familiar e particular que não envolve dinheiro nem futebol". "Posso revelá-lo, se as pessoas autorizarem", sublinhou. Porém, Augusto Duarte faltou ao tribunal - apresentou atestado de "incapacidade para o trabalho" -, tal como o seu pai, Azevedo Duarte, na altura vice-presidente do Conselho de Arbitragem da Federação de Futebol e motorista do autarca de Braga, Mesquita Machado. Noutra fase do interrogatório, o dirigente adiantou que o assunto envolve ainda Pinto de Sousa, então líder máximo da arbitragem federativa.
Pinto da Costa foi mais veemente quando negou ter entregue qualquer "envelope" a Augusto Duarte e que a presença do árbitro em sua casa, dois dias antes do jogo, foi "pura coincidência". E garantiu que Carolina Salgado(então, a sua companhaeira) não assistiu a qualquer parte da conversa privada. "Entrámos, ela subiu para o primeiro andar com António Araújo e ficámos a falar na parte de baixo. Depois, eles regressaram e ela serviu um café".
Totalmente diferente continua a ser versão da ex-namorada de Pinto da Costa, que constitui a base da acusação do Ministério Público. Segundo Carolina Salgado, o presidente do F. C. Porto recebeu Araújo e o árbitro na sala, tendo ela seguido para a cozinha, onde preparou cafés. E disse ter visto, logo ao início da conversa, Pinto da Costa a entregar um "envelope" ao árbitro. Contou, ainda, ter ouvido o dirigente dizer que a equipa precisava de estar moralizada, de "ganhar o jogo". "Falou em beneficiar e favorecimento", relatou.
A testemunha garantiu ainda que, durante a cerca de uma hora de duração da visita, "todos estiveram de pé". Relativamente a depoimentos anteriores, acrescentou que os "2500 euros" do alegado suborno eram em notas de 500 retiradas de uma cómoda no antigo apartamento do casal, na Rua Clube dos Caçadores, Gaia, que depois foram colocadas numa "escrivaninha" da moradia na freguesia da Madalena. E também foi dada uma "medalhinha" do clube. "O Jorge Nuno ficou encabulado ao ver que eu tinha assistido à entrega do envelope. Provavelmente, não queria que eu assistisse". E repetiu que foi Pinto da Costa quem lhe disse a quantia exacta oferecida. "Disse--me que isto é mesmo assim. Não respondia a mais nada...".
Carolina não deverá comparecer em tribunal, hoje, para continuação do interrogatório, pois deverá ser submetida a exames médico-legais, dada a agressão de que foi alvo (ver texto ao lado).