<p>O empresário de Ovar suspeito no caso "Face Oculta" poderá passar mais de três anos em prisão preventiva, por força de uma declaração de excepcional complexidade já validada pelo juiz de intrução criminal de Aveiro.</p>
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Detido desde o início do mês, Manuel Godinho, 54 anos, oficializou ontem um pedido de suavização da medida coactiva, propondo ser colocado em prisão domiciliária, explicou ao JN Pedro Teixeira, um dos seus advogados.
O facto de sofrer de diabetes é o problema invocado pelo sucateiro de Ovar, que alega não ter condições adequadas no estabelecimento prisional de Aveiro.
Se o juiz António Costa Gomes não aceitar este pedido, o arguido pode vir a ficar até três anos e quatro meses em prisão preventiva. Segundo fonte conhecedora do processo explicou ao JN, já foi declarada "excepcional complexidade" do processo, o que implica um alargamento dos prazos máximos de vigência das medidas de coacção devido ao número de arguidos e ao carácter organizado do crime.
A medida - da qual advogados contactados pelo JN disseram não terem tido conhecimento - influi também na duração do segredo de justiça, decretado pelo juiz em 2008, a pedido do Ministério Público.
Enquanto não é decidida a questão da medida de coacção, Manuel Godinho parece estar a construir amizades no Estabelecimento Prisional de Aveiro.
De acordo com informações recolhidas, o suspeito não hesita em pagar cafés no bar da cadeia aos seus colegas de reclusão, já se prontificou a oferecer sapatos a alguns dos detidos e disponibilizou-se até a pagar do seu bolso as multas a que foram condenados dois indivíduos e que, por força do não pagamento, os obrigou a cumprir penas de prisão efectiva.
Manuel Godinho foi colocado em prisão preventiva por estarem indiciados perigos de fuga e de continuação da actividade criminosa. O Ministério Público e o juiz interpretaram como plano de fuga uma conversa telefónica interceptada pela Polícia Judiciária de Aveiro a 25 de Junho passado. A conversa aconteceu com uma das principais colaboradoras do dono do grupo de Ovar a que está ligada a empresa "O2" e aludia à hipótese de fugir do país, se se visse em risco de ser preso. No entanto, o arguido não tem dupla nacionalidade luso-brasileira, ao contrário do que foi veiculado.
A conversa aconteceu um dia depois de as empresas de Godinho terem sido alvo de buscas, no âmbito de um outro inquérito (autónomo) por suspeitas de fraude fiscal. No último interrogatório, o empresário disse que planeava deixar de trabalhar dentro de um ano, sendo esse o sentido da referência a uma ausência do país.
Para sustentar o perigo de continuação da actividade criminosa, o juiz salientou que, mesmo sabendo que estava a ser investigado noutro inquérito, o arguido não deixou de estabelecer contactos para alegados negócios ilícitos junto de empresas como a EDP, Galp, Refer - com a suposta ajuda e influência do ex-ministro do PS, Armando Vara.