O ex-ministro Armando Vara afirmou, esta quarta-feira, aos jornalistas que está a ser vítima de um linchamento público e que não vai abandonar o amigo Manuel Godinho só porque este arguido está a passar um mau momento.
Corpo do artigo
Vara falava aos jornalistas no final da sessão desta quarta-feira do julgamento do processo Face Oculta, que decorre em Aveiro, após ter prestado depoimento perante o Tribunal e com visível satisfação.
Sinto-me pela primeira vez a falar para alguém que procura a verdade e isso nunca tinha acontecido até aqui", disse.
"Sentia que falava para alguém que tinha tomado a decisão de me acusar e depois logo se via com que provas. Hoje senti verdadeiramente haver interesse na procura da verdade e em tudo o que eu poder colaborar, fá-lo-ei", acrescentou.
Armando Vara não poupou críticas ao trabalho do Ministério Público, reafirmando a sua inocência, classificando-a como "uma acusação absurda e sem fundamento de prova".
O arguido critica a sustentação do MP que indica que ele conversou com Mário Lino e Ana Paula Vitorino (na altura no governo PS) sobre as empresas de Manuel Godinho, o que é "desmentido por todos".
"Magoa-me que num Estado de direito tenha sido possível fazer uma acusação tão grave e com um efeito tão corrosivo na imagem de uma figura pública, que corresponde ao seu linchamento, sem estar completamente fundamentada. Eles (a acusação) não cuidaram disso e há nas próprias diligências que constam do processo indícios que apontam noutra direcção", disse.
"Tenho carregado o maior insulto que se pode fazer a alguém que tem uma vida pública, daí a minha indignação", declarou.
Questionado se a sua amizade com Manuel Godinho não o estava a prejudicar, Armando Vara reafirmou-a, independentemente das circunstâncias: "Não tenho de me arrepender dos amigos que tenho. Sempre fui uma pessoa de lealdades, que preza muito a amizade e consideração e Manuel Godinho também me deu sempre essa consideração, às vezes até, se calhar, exagerada".
E adiantou não ter nenhuma razão para, agora, num momento de dificuldade da vida dele e da sua abandonar um amigo.
"Eu não sou desses", afirmou.
O antigo administrador do BCP concordou ainda com a destruição das escutas às conversas telefónicas que manteve com o ex-primeiro ministro José Sócrates, admitindo que não saiu beneficiado com esse acto.
"Disse na altura que se tratavam de conversas privadas entre dois amigos e se havia uma decisão judicial de as mandar destruir deviam ser destruídas e mantenho-o, mesmo que porventura isso me prejudique", afirmou.
O ex-ministro do PS acredita que vai "sair completamente ilibado neste processo".
Vara exigiu ao MP que actue depois de um incidente ocorrido no final da manhã, em que um popular o terá insultado perante as câmaras de televisão.