Coordenadora das Unidades de Colheita defendeu ontem a doação de órgãos em vida como forma de aliviar o sofrimento humano. As colheitas em Portugal aumentaram cerca de 36,8% nos casos de rins e de figados.
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Maria João Aguiar quer maior divulgação desta dádiva e uma maior protecção aos dadores. "A doação em vida é possível podendo as pessoas contribuir para aliviar o sofrimento dos seus familiares e amigos", afirmou.
Falando ao JN à margem do XXII Encontro Nacional da Pastoral da Saúde, dedicado ao tema "Transplante de órgãos, doação para a vida", que decorre em Fátima até quinta-feira, a responsável frisou que para se ser dador em vida "é preciso ser solidário, querer ajudar alguém que nos é muito próximo, um amigo, um familiar, enteado, ou seja lá quem for".
A anestesista Maria João Aguiar defendeu ainda uma maior protecção para os dadores que ainda estão pouco protegidos", revelando ter sido apresentada uma proposta ao Ministério da Saúde que isenta os dadores do pagamento das taxas moderadoras. "A protecção ao dador poderá ser um pouco melhorada neste país, de maneira que ninguém seja penalizado por ser solidário", considerou.
Segundo a responsável existem em Portugal 21.290 transplantados, revelando que as listas de espera "é muito superior aos órgãos disponíveis para transplantes". Em Portugal, desde 1992, a colheita de órgãos "tem registado altos e baixos", situação que Maria João Aguiar espera vir a ser alterada, já que neste momento existem mais unidades de recolha no país.
A situação mais grave prende-se com os transplantes pulmonares - até finais de 2008 foram transplantados 22 doentes - mas a responsável acredita que "dentro de um ou dois anos" Portugal "poderá ter o problema resolvido".
Os transplantes de medula "são um caso de sucesso" que regista o maior número de dadores.
A coordenadora das Unidades de Transplantes revelou ainda que as principais recolhas de órgãos são feitas em cadáveres, pelo que pediu um maior cuidado das pessoas durante a vida. "Para se ser dador quando se morre só é preciso tentar ser o mais saudável possível, não se inscrever no Registo Nacional de Não Dadores (RNND) e informar a sua família de que, após a sua via, quer ajudar os outros e possibilitar a colheita de órgãos para transplantação", sustentou.
Apenas 35 mil portugueses constam do RNND , mas Maria João Aguiar defendeu uma maior divulgação deste registo, já que "é importante que cada um tome em vida uma decisão para depois da morte".
Para Vítor Feytor Pinto, coordenadora nacional da Pastoral da Saúde, a doação de órgãos "é um grande desafio que se coloca à Igreja". "É preciso preparar as pessoas para saberem doar, pois o transplante é um dom da vida", disse. "Doar um órgão é a expressão máxima da caridade fraterna", sustentou Feytor Pinto considerando que "a doação é um problema profundamente cristão".
"As pessoas devem começar a perceber a riqueza de um transplante" concluiu.