Bento XVI deixou de ser Papa esta quinta-feira às 19 horas, seguindo-se agora várias etapas até à eleição e entronização do seu sucessor na chefia da Igreja Católica, com mais de mil milhões de fiéis. Ratzinger passa a ter o título de "sua santidade Bento XVI Papa emérito".
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Depois de uma viagem de helicóptero até Castel Gandolfo, a 25 quilómetros a sul de Roma, Bento XVI saudou a população, a partir da varanda da residência de verão dos Papas, no último ato público enquando chefe da Igreja Católica.
A entrada em vigor da resignação, anunciada em 11 de fevereiro, teve como única manifestação pública a retirada do pequeno destacamento da Guarda Suíça da entrada da residência, pondo fim a um serviço exclusivamente reservado ao Papa.
Inicia-se, assim, a "Sé apostólica vacante", período entre a morte/renúncia de um papa e a eleição do sucessor, durante o qual quase todos os chefes de dicastérios (ministros) da Cúria romana terminam as suas funções.
Os apartamentos pontifícios são selados, aguardando o próximo inquilino, e o cardeal camarlengo será o "patrão" interino do Vaticano. Desde que foi nomeado em 2007 por Bento XVI, este cargo pertence ao secretário de Estado, Tarcisio Bertone, atual 'número dois' do Vaticano.
A 1 de março, o Vaticano vai emitir um selo especial para ser utilizado durante a "sé vacante".
O decano do Colégio Cardinalício, Angelo Sodano, vai enviar, na sexta-feira, cartas a todos os cardeais para os convocar para as "congregações gerais", que vão reunir a partir de segunda-feira.
O "anel do pescador", símbolo do poder pontifício que servia outrora para autenticar documentos, vai ser destruído com um martelo pelo cardeal Bertone logo na primeira reunião dos cardeais, para evitar qualquer falsificação.
Após a designação do novo papa, cabe ao camarlengo colocar o novo anel papal no dedo do eleito.
Nas "congregações" previstas para definir os desafios que se colocam à Igreja católica, os cardeais vão decidir, por voto, a data do conclave que escolherá o novo Papa.
Antes de resignar, Bento XVI, que passa a ter o título de "Sua santidade Bento XVI, Papa emérito", emitiu um decreto "motu proprio" (por iniciativa pessoal), que emenda a Constituição Apostólica "Universi Dominici Gregis", promulgada a 22 de fevereiro de 1996 pelo antecessor João Paulo II e que fixava um prazo mínimo de 15 dias e máximo de 20 para a convocação do conclave.
A emenda autoriza o Colégio Cardinalício a "antecipar o início do conclave, uma vez confirmada a presença de todos os cardeais".
O conclave, reunião secreta dos cardeais de todo o mundo encarregados de eleger o papa, deverá reunir 115 cardeais eleitores. Desde 1970, Paulo VI ficou em 80 anos a idade limite dos eleitores do papa.
A duração da reunião dos cardeais, que recebeu o nome de conclave em referência à sala que antigamente era fechada à chave, não é definida antecipadamente e a eleição é feita com a deposição dos boletins num cálice. De manhã realizam-se duas votações, e à tarde outras duas.
Depois de cada escrutínio, os boletins são queimados numa frigideira.
O conclave decorrerá sob os frescos de Michelangelo na Capela Sistina até à obtenção de uma maioria de dois terços sobre um nome entre os candidatos favoritos.
Se o resultado for inconclusivo, juntam-se produtos químicos aos boletins que serão queimados para que produzam fumo negro. Se um novo papa estiver escolhido serão queimados unicamente os boletins, produzindo um fumo branco, que anuncia a eleição. Nesse momento, o grande sino da basílica de São Pedro tocará a repique.
Uma vez escolhido, o eleito responde a duas questões do decano dos cardeais: "aceita a eleição canónica como soberano pontifíce? qual o nome escolhido?". Se responder "sim" à primeira questão, o eleito torna-se imediatamente papa e bispo de Roma.
O novo papa entrará depois numa sala adjacente à Capela sistina, denominada "sala das lágrimas" porque vários papas aí deram largas à emoção perante a tarefa que lhes era confiada, e envergará uma das três sotainas brancas, de diferentes tamanhos, preparadas pelo alfaiate escolhido pelo Vaticano.
Um a um, os cardeais prestam homenagem ao novo papa, antes do anúncio aos fiéis, com a fórmula "Habemus Papam" ("temos papa", em latim), que será pronunciada pelo "protodiácono" (o cardeal mais antigo no cargo), atualmente o francês Jean-Louis Tauran, presidente do Conselho pontifício para o diálogo inter-religioso.
O novo papa profere depois a benção apostólica "Urbi et Orbi" (à cidade e ao mundo), a partir da varanda da basílica de São Pedro.