Um especialista em questões da UE disse que a atual crise levanta o problema de saber se a permanência no euro, com as políticas que estão a ser adotadas, vai colocar a austeridade como um fator permanente.
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"O grande problema em aberto, e ninguém consegue dar resposta, é saber se a permanência no euro, com estas políticas, vai colocar a austeridade não como uma coisa transitória, mas permanente", considerou José Pedro Teixeira Fernandes, doutorado em Ciências Políticas e Relações Internacionais e professor no Instituto Superior de Ciências Empresarias e Turismo, no Porto.
Para o académico, a situação em Portugal é definida como preocupante, uma "encruzilhada" ainda sem saída definida.
"O que sabemos é que os caminhos apontados estão no limite da aceitação social", argumentou o autor de diversos ensaios e trabalhos de investigação, nos quais se inclui o recente "A Europa em Crise" (2012), que questiona as raízes mais profundas da crise europeia.
Apesar de considerar "positiva" a flexibilização do período temporal por mais um ano, até 2014, para o cumprimento do défice orçamental imposto pela 'troika' internacional a Portugal, Teixeira Fernandes admitiu que a União terá provavelmente "de flexibilizar noutras áreas, e diria mesmo nalgumas áreas de mercado comum".
Num momento em que a liderança da UE parece empenhada no reforço do projeto federalista, Teixeira Fernandes insistiu que o atual momento não aconselha avanços na integração política.
"Do ponto de vista dos Estados nacionais, e agora ligando com o caso português, com tudo o que é político, um processo negocial desse género é um processo de ideias, mas também de relações de poder", frisou.
E precisou: "Nesta altura, as unidades políticas como Portugal, Grécia, ou outras, estão extremamente fragilizadas. A questão é saber que possibilidades reais existem de um acordo de mais integração ou minimamente aceitável para estes países e nesse contexto. Muito poucas ou nenhumas".
Assim, e nos países que "literalmente não têm poder negocial", aconselha-se prudência. "A questão é que, neste momento, a própria UE acaba por ser um fator de enfraquecimento dos próprios Estados, que acabam por não ter a resolução dos problemas a nível nacional".
O "dogma europeu" do "andar para a frente" não garante que seja ultrapassada a atual crise, asseverou.
"Em certas alturas, é preferível pensar o processo e, em certas alturas, o bom senso diz-nos que é talvez possível fazer pontualmente marcha atrás, para solidificar a construção europeia", disse, antes de considerar que mantém "sérias dúvidas que o problema da Grécia possa alguma vez ser resolvido apenas com ajuda financeira".
A aplicação de um "regime de exceção" a Portugal ou à Grécia é uma das medidas sugeridas por Teixeira Fernandes, de 47 anos.
"A Grécia não tem capacidade de competir num mercado comum, aberto, e estas soluções neoliberais não resolvem o problema", referiu.
"Provavelmente Portugal também vai precisar de algum tipo de negociação, de situações de exceção para alguns setores da economia e que poderão aliviar ou ajudar. Digo isto não no sentido de pôr em causa o processo de integração europeia e o mercado único, mas medidas que transitoriamente podem ser um mal menor e evitar problemas ainda maiores no futuro", concluiu.