D.Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas, considera um "volte face" que o Papa Bento XVI tenha admitido a utilização do preservativo "em certos casos", para reduzir os riscos de contaminação pelo vírus da Sida.
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"Se me pergunta se é um estrondo, sem cairmos em excessos, nem em exageros, é indiscutível que é. É indiscutível que é um "volte face", com o qual rejubilo", disse D.Januário Torgal Ferreira em declarações à Agência Lusa, reconhecendo que a prática dos cristãos há muito assumiu essa opção em nome da responsabilidade e de princípios éticos e morais.
O bispo das Forças Armadas mostrou-se "muito satisfeito" com as palavras do Papa diante de dramas e dificuldades "tão reais", em que se "joga a vida" e em que estão em causa "princípios éticos", designadamente de que "a vida tem de ser defendida".
"A vida não pode ser infectada, a vida não pode ser assassinada", realçou D.Januário Torgal Ferreira, observando que a "verdade pode aparecer um pouco alongada no tempo", mas que "quando é dita tem sempre lugar marcado".
O bispo fez votos para que dentro de dias não apareça uma "contra corrente" a dizer que Bento XVI foi mal interpretado no que disse ou uma qualquer outra retificação, observando que equívocos desses já ocorreram.
Manifestou contudo confiança que o jornalista que transmitiu a palavra do Papa o fez com rigor.
"A luz do mundo"
Pela primeira vez, um Papa admitiu a utilização do preservativo "em certos casos", desde que "para reduzir os riscos de contaminação do vírus da Sida. A declaração é de Bento XVI e, segundo a Agência France Press, consta num livro a ser publicado na quarta-feira.
"Em certos casos, quando a intenção é reduzir o risco de contaminação [do VIH], este pode mesmo ser um primeiro passo para abrir caminho a uma sexualidade mais humana, de outra forma vazia", afirma Bento XVI.
O livro, intitulado "A luz do mundo", foi escrito por um jornalista alemão e aborda vários temas polémicos, como a pedofilia, o celibato dos padres, a ordenação das mulheres e a relação com o Islão.
O Vaticano sempre baniu toda e qualquer forma de contracepção, excepto a abstinência sexual, mesmo relativamente à prevenção das doenças sexualmente transmissíveis.