Investigadores descobrem novas moléculas que podem evitar morte neural na Doença de Parkinson
Investigadores identificaram moléculas capazes de reverter a doença de Parkinson, segundo um estudo que envolve o português Tiago Outeiro, na altura a trabalhar no Instituto de Whitehead de Investigação Médica, em Cambridge, nos EUA.
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Num artigo publicado na Disease Models & Mechanisms são ainda avançadas novas pistas para a origem das anomalias no cérebro que levam à doença.
O cientista português, agora no Instituto de Imunologia Molecular da Universidade de Lisboa, explicou à Lusa que o trabalho identificou um "novo conjunto de moléculas que se mostraram eficazes nos estudos laboratoriais desenvolvidos em modelos da doença de Parkinson".
"São moléculas novas que nunca haviam sido testadas para esta patologia e que foram capazes de evitar a morte neuronal que é característica da doença", explica.
Para o investigador, está aberta uma "nova porta, uma nova esperança", por poderem ser desenvolvidas estas novas moléculas de modo a serem testadas nos doentes.
"No entanto, como acontece com todas as descobertas, terão de ser efectuados testes rigorosos para garantirem a eficácia e segurança. Não é possível colocar prazos nestas descobertas, apenas assegurar que foi dado mais um passo importante, e que temos de ter esperança de que chegaremos a bom porto", sublinha.
Outeiro lembrou que só em Portugal estima-se que existam 20 mil doentes de Parkinson e, em todo o mundo, "há milhões de pessoas afectadas, e que poderão beneficiar destes avanços no futuro". "O impacto poderá ser muito grande".
Resumindo a descoberta, Tiago Oteiro referiu que se tratou da identificação de compostos químicos que se mostraram protectores contra conhecidos problemas característicos da doença de Parkinson.
"Procurámos dentro de um conjunto de mais de 115 mil compostos e identificámos quatro que se mostraram eficazes, que foram depois testados noutros modelos da doença. Os efeitos foram fantásticos, sendo por isso um conjunto de moléculas extremamente promissor, que estamos a continuar a desenvolver".
O português acrescentou que o estudo permitiu ainda fazer uma caracterização molecular mais completa dos efeitos destes compostos, percebendo que as 'fábricas de energia' das células, que são afectadas na doença de Parkinson, beneficiam dos efeitos dos compostos.
"E tudo isto foi possível com o recurso a um modelo extremamente simples, no qual procurámos reproduzir características essenciais da doença de Parkinson. Trata-se das leveduras, um modelo que desenvolvemos em 2003, e que continua a ser extremamente útil para acelerar o conhecimento na área das doenças neurodegenerativas", conclui.
A doença de Parkinson é caracterizada por depósitos anormais de uma proteína (alpha-synuclein), que afecta regiões do cérebro, mas o que exactamente fazem ainda está por definir.
O novo estudo sugere que estes depósitos fazem parte de um processo fisiológico normal para expulsar as proteínas indesejadas. Mas quando 'sobrecarregados', os depósitos podem causar anomalias celulares que levam ao Parkinson e, em caso extremo, à morte dos neurónios.
Isto pode explicar a razão de a doença surgir numa fase tardia da vida, numa altura em que o metabolismo se torna menos eficaz. O efeito é ainda mais explícito nos neurónios, que são das poucas células que o corpo é incapaz de substituir quando se tornam velhas ou menos capazes.
A doença de Parkinson é neurodegenerativa e caracterizada por tremores, rigidez e problemas de equilíbrio e coordenação. Alguns pacientes também sofrem de demência.
Também se pode registar a falta de produção de dopamina, um neurotransmissor, que envia 'mensagens' a outras células nervosas do corpo.
O tratamento da doença tem passado por medicamentos que substituem a dopamina, mas a doença é incurável actualmente.
* Agência Lusa