A administração da RTP questionou esta segunda-feira o cenário de concessão da empresa a um privado, declarando que tal cenário "envolve o mesmo custo para o contribuinte que a manutenção da RTP sob propriedade e gestão pública".
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Em nota interna a que a agência Lusa teve acesso, a administração diz ainda aos colaboradores da RTP que tal cenário, de concessão a um privado, "talvez" não garanta o "mesmo serviço público nem o mesmo retorno financeiro para o Estado".
O documento surge pouco depois de uma nota geral à imprensa onde a empresa liderada por Guilherme Costa aponta que manifestou em "tempo oportuno" junto do Governo a sua discordância perante o cenário de uma concessão a um privado da empresa, como anunciado na semana passada.
No texto endereçado internamente aos funcionários, a administração da estação pública assevera ainda que "não é o momento de dar detalhes sobre os fundamentos" da rejeição pelo cenário da concessão, como não deveria ter sido o momento para ser avançada uma preferência por este cenário.
"Parece ser no entanto o momento apropriado para contradizer o argumento económico utilizado para justificar aquela preferência, argumento que em nossa opinião não só não colhe como esquece os sacrifícios que vêm sendo pedidos a todos os colaboradores da empresa - administrações e direção não excluídos - desde 2003 e mais intensamente a partir de 2010", apontam os gestores.
"Os números da empresa, desde 2003 (data de celebração do Acordo de Reestruturação Financeira com o Estado, escrupulosamente cumprido) e os seus resultados recentes (com lucros em dois anos consecutivos pela primeira vez em 20 anos, lucros que se prevê irem continuar em 2012), atestam o rigor que vem sendo imprimido à gestão", nota ainda a equipa liderada por Guilherme Costa.
A administração da RTP diz também que encetará um programa de comunicação interna com "informação detalhada sobre a evolução económica e financeira da empresa, componente sempre presente da discussão sobre o futuro do serviço público, de forma a permitir a participação esclarecida no debate público sobre os verdadeiros custos atuais do serviço público".
O atual Conselho de Administração da RTP diz ter um "mandato de gestão claro", que passa pela execução do Plano de Sustentabilidade Económica e Financeira (PSEF).
"O objetivo fixado no PSEF e aprovado pela tutela dos 180 milhões de custos operacionais só poderá ser alcançado pela reconfiguração do 'portfolio' de atividades e serviços da empresa e subsidiariamente pela redução do número de efetivos", é dito na nota interna.
O consultor do Governo António Borges considerou na semana passada, em entrevista à TVI, que a possibilidade de concessionar a RTP1 a investidores privados era um cenário "muito atraente", assegurando contudo que nada estava ainda decidido sobre o futuro da empresa.
A RTP2 irá "muito provavelmente" fechar, independentemente do cenário a adotar para o futuro da empresa, em razão do seu avultado custo, para reduzidas audiências, prosseguiu o consultor do executivo, na entrevista à TVI.
Diversos constitucionalistas têm questionado a eventual inconstitucionalidade da medida preconizada por António Borges.