Alguns familiares de turistas portugueses, que ontem, quarta-feira, participavam na acidentada excursão a Marrocos, foram informados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de que tinham morrido quando, afinal, estão vivos. Fonte do MNE admite "confusão".
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De acordo com o que o JN apurou, as autoridades marroquinas enviaram ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) uma lista provisória com a identificação das vítimas mortais do acidente, da qual constava o nome e o número do bilhete de identidade ou do cartão do cidadão.
A partir dessa lista, começaram a ser feitos os contactos com as famílias. Contudo, ainda segundo as informações recolhidas pelo JN junto de fontes governamentais, pelo menos em dois dos casos a informação estava errada.
Fonte da Secretaria de Estado dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas admitiu, ao JN, que a confusão "pode ter acontecido". "Infelizmente, não é a primeira vez que acontece. Tivemos acesso à lista muito tarde e a pressão era grande. Pode ter havido confusão com alguns dos nomes", reconheceu. À hora de fecho da edição, ainda havia cadáveres por identificar, acrescentou a mesma fonte, não tendo ainda sido fixada a data das trasladações dos corpos.
O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, António Braga, deslocou-se a Marrocos ao final da tarde de ontem, para se inteirar pessoalmente do assunto. No acidente de ontem, no norte de Marrocos, morreram nove turistas portugueses, oito mulheres e um homem.
Registaram-se ainda 17 feridos ligeiros e 19 graves, entre os quais uma menina de 10 anos, que teve de esperar duas horas para ser desencarcerada, e uma mulher que foi helitransportada para o hospital de Rabat, capital de Marrocos.
Os feridos ligeiros foram tratados no Hospital Universitário de Ceuta e no posto médico avançado montado junto ao navio e os restantes em unidades marroquinas.
Autocarro caiu em ravina
As vítimas seguiam num dos cinco autocarros que viajavam em caravana em direcção a Tétouan, no norte de Marrocos, onde iriam fazer compras. Tratava-se de uma excursão contratada a bordo do navio de cruzeiro "Funchal", propriedade da Classic International Cruises, por cerca de metade dos 416 passageiros.
O acidente aconteceu pelas 7.20 horas locais (menos uma hora em Portugal continental), perto da localidade marroquina de Castillejos, a cerca de três quilómetros da fronteira com Ceuta, território espanhol. Segundo o testemunho de vários turistas, o autocarro que seguia na frente entrou em despiste, galgou o separador central da via rápida - que tem duas faixas em cada sentido - e acabou por cair numa ravina com cerca de três metros de profundidade.
O veículo era conduzido pelo espanhol Juan Antonio Medina, proprietário da Autocares Abyla Tour, S.L., fundada há 25 anos em Ceuta e com a qual a Classic International Cruises trabalha há vários anos.
Na origem do acidente poderá ter estado uma mistura de óleo e água no pavimento, uma vez que começara a chover pouco tempo antes. Contudo, fonte policial contactada pela France Press referiu que "o excesso de velocidade pode também ter contribuído" para o acidente.
No navio de cruzeiro "Funchal", o ambiente era, ao início da noite de ontem, de insatisfação e calma. "Não há pânico generalizado. Os passageiros foram informados do que se passou e do atraso na partida", disse, ao JN, Telmo Miranda, director do paquete.
O responsável referiu que o navio só foi informado do sucedido cerca de uma hora após o acidente e que a primeira ambulância chegou ao local pelas 9.25 horas locais, ou seja, quase duas horas depois do sinistro.
O "Funchal" zarpou cerca das 20 horas locais de Ceuta, com 16 dos feridos a bordo. Tem hora prevista de chegada a Lisboa às 19 horas de hoje, quinta-feira.