O ex-diretor de informação da RTP, Nuno Santos, e o presidente do conselho de administração da empresa, Alberto da Ponte, vão ser ouvidos no Parlamento a propósito do caso envolvendo as imagens da greve de 14 de novembro.
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A Comissão Parlamentar de Ética, Cidadania e Comunicação aprovou, esta quarta-feira, por unanimidade, as audições de Nuno Santos e Alberto da Ponte, ao mesmo tempo que o PSD e o CDS-PP chumbaram a audição do ministro-Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, que tutela a pasta da comunicação social.
Também propostas do Bloco de Esquerda (BE) para se ouvir o Conselho de Redação e Comissão de Trabalhadores da RTP e o Sindicato de Jornalistas foram recusadas pela maioria. O PS, que queria também ouvir o diretor-geral de conteúdos da empresa, Luís Marinho, viu também o seu pedido ser rejeitado pelo PSD e CDS-PP.
Um inquérito interno da RTP concluiu que o ex-diretor de Informação Nuno Santos autorizou a PSP a ver as imagens dos incidentes de 14 de novembro, de acordo com o documento a que a agência Lusa teve hoje acesso.
Segundo o relatório do inquérito, hoje entregue à Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), a 14 de novembro a PSP pediu junto da RTP (subdireção de produção de informação) a escolha e cedência das imagens dos incidentes do dia da greve, recolhidas pela RTP, bem como o seu visionamento nas respetivas instalações.
"O então diretor de Informação [Nuno Santos] autorizou que a PSP visionasse as imagens na RTP no dia seguinte num sítio discreto que não no Arquivo", aponta o inquérito.
A PSP visionou imagens dos incidentes através de um computador, com a aplicação Q-view e, através de 'laptop' [portátil], cassetes contendo as imagens captadas pelos repórteres de imagem da RTP, a 15 de novembro.
Um membro da direção do Sindicato dos Jornalistas, Fernando Valdez, declarou em audição num grupo de trabalho com deputados da Comissão de Ética, prévia à discussão sobre os requerimentos de audições, ter conhecimento de que Nuno Santos não foi ouvido no inquérito interno da RTP que lhe viria a imputar responsabilidades no processo.
"Um inquérito em que uma pessoa acusada não é ouvida, pode-se chamar muita coisa. Mas não se pode chamar de inquérito", declarou a deputada do BE Catarina Martins.
A comissão de trabalhadores da RTP criticou também hoje o inquérito interno da empresa sobre o caso referente à visualização de imagens por parte da PSP, apelando ao Parlamento para atuar no esclarecimento total de todo o processo.
As conclusões do inquérito interno da RTP confirmam, acusam os trabalhadores, a "irrelevância dessa investigação" que teve, acusam, um "alcance meramente administrativo, e com uma nutrida coleção de atropelos formais".
"É preciso saber se o parlamento sabe o que faz o Governo, se o Governo sabe o que fazem os seus ministros, se o ministro manda nas polícias, se as polícias, ou as suas unidades embuçadas, se arrogam o direito de mandar nas televisões, e se alguém na RTP atuou como se esse suposto direito devesse ser reconhecido a algum graduado da polícia", aponta o texto da comissão de trabalhadores da empresa pública.