Hospital de Santa Maria diz que ainda é cedo para dizer que a cegueira seja definitiva, mas há doentes que dizem já terem sido informados que a sua condição é inalterável.
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A Direcção Clínica do Santa Maria garante não ser ainda possível "estabelecer um prognóstico sólido relativamente à situação clínica dos doentes". Em comunicado, o hospital afirma que "não se podem considerar irreversíveis os danos oftalmológicos sofridos" pelos doentes em causa e que "a endoftalmite que os atingiu não se encontra estabilizada em nenhum deles, apresentando até quadros evolutivos significativamente diferentes".
O comunicado surgiu em reacção à notícia avançada hoje, segunda-feira, pela Agência Lusa, que garantia, citando pacientes afectados, que os doentes já teriam sido informados pelos médicos de que a cegueira seria definitiva e sem qualquer hipótese de recuperação.
Maria das Dores, uma das doentes, que ficou cega dos dois olhos, disse à Lusa que soube na semana passada que não ia voltar a ver nada, tendo sido reencaminhada, por parte do Hospital de Santa Maria, para o centro de reabilitação de cegos.
Já depois de ter sido submetida ao tratamento que a cegou, Maria das Dores ainda chegou a recuperar ligeiramente e "a ver umas sombras", mas neste momento está completamente cega.
"Por fora, os olhos estão bonitos. Os médicos têm feito uns tratamentos para as infecções, mas já me disseram que não vou voltar a ver", contou.
Na mesma situação está Maria Antónia Martins, que perdeu a visão num olho. "Eu deixei de ver depois das injecções, mas na altura não sabia que ia ficar cega. Só na quinta-feira é que soube com certeza. Disseram-me que a vista está queimada por dentro e que não há nada a fazer", disse.
Walter Lago Bom ficou cego dos dois olhos e nunca alimentou a esperança de voltar a ver, mas da parte dos clínicos essa verdade só lhe chegou há pouco tempo: "Desde o início, a sensação que tive nos meus olhos foi a de uma lâmpada que se funde. Vi logo que tinha cegado. Ainda se falou na hipótese de ir aos Estados Unidos tentar um tratamento, mas a verdade é que não havia nada a fazer e recentemente é que os médicos acabaram por ter de confirmar isso".
Segundo este doente, que chegou a ser operado, as células do olho direito estão queimadas. O olho esquerdo tem uma inflamação que não permite aos médicos verem com clareza a dimensão das lesões.
Contudo, Walter Lago Bom, que continua internado em Santa Maria, não tem esperança e está convicto de que os médicos "vão acabar por confirmar a cegueira definitiva do olho esquerdo também".
Outro doente, que ficou cego do olho esquerdo, falou igualmente da esperança de voltar a ver, que entretanto já foi completamente afastada. Américo Palhota diz que neste momento está a fazer tratamento para debelar uma infecção, mas não para a cegueira porque já sabe que tem "os olhos queimados por dentro".
O Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN) constituiu no final de Agosto uma comissão de acompanhamento para avaliar os "eventuais danos e respectivo ressarcimento" dos seis doentes que perderam a visão na intervenção oftalmológica ocorrida a 17 de Julho.
Até hoje não houve ainda desenvolvimentos, lamentam os doentes, que apenas foram contactados "logo no início" para recolha dos depoimentos.