Carros e sinalização inovadores vão evitar acidentes. Falta de financiamento e diferentes características dos centros urbanos poderão atrasar modernização.
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As 424 maiores cidades europeias terão de ter um plano de mobilidade urbana sustentável até 2025. Semáforos inteligentes, passadeiras e sinais de trânsito luminosos, câmaras e sensores incorporados em veículos são alguns dos exemplos do que já está a ser feito pelo Mundo para melhorar o fluxo do tráfego e reduzir acidentes. A tecnologia está cada vez mais presente nas nossas deslocações, mas as dificuldades dos estados-membros da União Europeia em chegarem a consenso poderão ser um obstáculo à implementação dos Sistemas Inteligentes de Transporte (ITS).
Em Portugal, cidades como Porto e Lisboa, já estão a adotar soluções tecnológicas para melhorar a mobilidade. A capital começou a implementar um sistema de mobilidade inteligente, em 2021, que permite avaliar em tempo real os fluxos de tráfego. Será atualizado em breve, com a instalação de sensores, que "permitirão controlar autonomamente estes movimentos de trânsito no momento exato", revelou o vice-presidente da Câmara de Lisboa, Anacoreta Correia, no Congresso Europeu ITS 2023, que decorreu recentemente em Lisboa.
Bom exemplo do Porto
O professor catedrático da Faculdade de Engenharia do Porto, João Barros, elogiou o que tem sido feito na Invicta, onde "há oito anos os autocarros começaram a usar tecnologias de sensorização móvel, recolhendo dados para melhorar a vida das pessoas". O especialista diz que esta tecnologia, que está a ser aplicada em várias partes do Mundo, vai "ajudar a automatizar os veículos de forma que, um dia, consigam guiar-se a si próprios". "Vão conseguir detetar sítios onde há muitos acidentes e evitá-los".
Académicos, políticos e empresários de mais de trinta cidades do Mundo participaram no evento para debaterem a mobilidade inteligente nas cidades. Numa das intervenções, Joost Vantome, CEO do ERTICO - ITS Europe, disse que, cada vez mais, "o semáforo vai saber quando o carro se está a aproximar ou não". "Em vez de termos o carro a parar no semáforo porque está vermelho, vai acontecer o contrário. Isso é inovação, o que podemos fazer e faremos", afirmou.
Angelos Amditis, presidente do ERTICO, e Herald Ruijters, da Direção de Mobilidade da Comissão Europeia, consideraram que "a mobilidade inteligente precisa de uma forte colaboração entre os setores público e privado" e Michael Schuch, CEO da Swarco, alertou para os obstáculos. "Nos últimos três anos, os estados-membros da Comissão Europeia não chegaram a acordo quanto à sinalização viária para a implantação de veículos automatizados conectados", referiu, apontando ainda a "falta de financiamento" e "problemas de compatibilidade com sistemas legais" como barreiras à modernização.
Dez anos de esforços
João Barros, também membro do Conselho de Tecnologia e Inovação, diz que "já há tecnologia disponível e a indústria está pronta a responder", mas "estamos mais atrasados do lado das políticas públicas". "Há cidades que estão mais à frente do que outras. Passar à ação, já estamos a falar de cinco a 10 anos de esforços contínuos e investimento público".
A edição deste ano do Congresso Europeu ITS, que decorreu durante três dias em Lisboa, focou-se nas grandes tendências, como a digitalização, descarbonização e globalização.
Lisboa cria novo sistema de circulação
Lisboa está a implementar um projeto-piloto para criar um sistema de circulação prioritária de viaturas de emergência, como INEM, bombeiros e Polícia, e dos autocarros da Carris nos cruzamentos controlados por semáforos no eixo central. O principal objetivo é melhorar a segurança rodoviária e eficiência destes veículos e, consequentemente, a mobilidade na capital, anunciou Anacoreta Correia. Este projeto funcionará através da rede de telecomunicações ITS-G5, uma tecnologia de comunicação sem fios entre infraestruturas e viaturas projetada especificamente para transporte inteligente.