Inteligência artificial: "Porto já utiliza muita informação recolhida pelos veículos"

João Barros Professor catedrático da Faculdade de Engenharia do Porto
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João Barros, professor catedrático da Faculdade de Engenharia do Porto, diz que há cada vez mais carros com inteligência artificial que permitem o mapeamento de praticamente todas as ruas da cidade. O maior desafio é gerir interesses de metrópoles tão distintas.
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Há cada vez mais soluções de mobilidade inteligente. Quais as mais exequíveis e quais destacaria?
Os veículos têm cada vez mais câmaras. Com a inteligência artificial, conseguimos processar essas imagens a uma velocidade alucinante e tornar os transportes muito mais seguros porque conseguimos distinguir obstáculos, evitar colisões e acidentes com peões. Cada vez mais carros estão a adotar este tipo de tecnologias e podemos utilizá-las para tornar as cidades muito mais seguras e sustentáveis.
Pode dar um bom exemplo de uma "cidade inteligente" em Portugal que já esteja a adotar estas práticas?
No nosso país, claramente, o Porto assumiu uma grande projeção internacional nesta área. A empresa que criei, a Veniam, foi a primeira a colocar todos os autocarros em rede, oferecer o wi-fi às pessoas, e a utilizar tecnologias de sensorização móvel na cidade. O Porto já utiliza muita informação recolhida pelos veículos enquanto fazem as suas rotas.
O que está a ser feito de relevante nesta área noutras cidades do Mundo?
Em Nova Iorque, mais de cinco mil veículos da Uber, com câmaras, estão a fazer um "scanner" da cidade em tempo real. Estão a ver a cidade toda e a recolher informação. Nesta cidade, conseguimos ver praticamente todas as ruas, 94% das ruas, de poucos em poucos minutos, e isso permite detetar locais de estacionamento que estão livres só com base naquilo que os veículos veem. Conseguimos fazer um mapa de estacionamento.
Quais os principais obstáculos à implementação de sistemas mais inteligentes nas cidades?
Havendo esta capacidade de capturar enormes quantidades de dados, o desafio é como vamos conseguir organizar-nos como indústria, Estado e câmaras municipais para tirar o máximo partido destes de forma segura. É normal que demore a haver uma harmonização das políticas públicas entre os vários países porque têm sensibilidades diferentes em relação a estas questões. Na Alemanha, por exemplo, a indústria automóvel é fortíssima, tem um lóbi muito grande.
