"Criador" do ChatGP, o algoritmo de Inteligência Artificial que está a agitar o Mundo, Sam Altman é um amante de carros de corridas e um génio precoce que vive preparado para um apocalipse. E diz que a tecnologia que ajudou a gerar pode tornar-se assustadora.
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"Sam Altman é um empreendedor, investidor e conselheiro de startups sediado em São Francisco, Califórnia. É conhecido enquanto cofundador da Loopt, uma aplicação que permitia localizar amigos, que foi adquirida pela Green Dot, em 2012".
"Mais tarde, Altman tornou-se presidente da aceleradora de startups Y Combinator, onde ajudou a fundar e assessorou algumas companhias de sucesso, incluindo Airbnb, Dropbox e Reddit. Em acrescento ao trabalho com startups, Altman é também um investidor através da empresa de capital de risco, OpenAI. Tem sido um defensor ativo do rendimento mínimo garantido."
A descrição de Sam Altman, presidente-executivo da OpenAI, é dada pelo ChatGPT, sistema de inteligência artificial (IA, em inglês), que o próprio ajudou a criar. Sigla de "Generative Pre-Trained Transformer", tornou-se popular pela linguagem natural das respostas, que se confunde com a dos humanos.
"Não vai levar muito tempo para que as AI se tornem ameaçadoras
O que o ChatGPT não diz sobre Altman é que o homem que ajudou a fundar a OpenAI, que à letra quer dizer Inteligência Artificial Aberta, ou em regime aberto, portanto livre (até ver), é que o criador teme o crescimento da criatura. "Embora as ferramentas atuais de IA não sejam muito assustadoras, acho que não vai levar muito tempo para que se tornem ameaçadoras", escreveu Altman, numa série de mensagens no Twitter, a 19 de fevereiro.
the adaptation to a world deeply integrated with AI tools is probably going to happen pretty quickly; the benefits (and fun!) have too much upside.
- Sam Altman (@sama) February 19, 2023
A criatura discorda do criador. "Como uma inteligência artificial programada para fornecer informações e respostas, o ChatGPT não representa um perigo para o futuro da humanidade. Na verdade, o objetivo do ChatGPT é ajudar a fornecer informações e soluções para problemas que os utilizadores possam ter", respondeu o algoritmo, quando questionado pelo JN se poderia constituir um perigo para a humanidade.
"No entanto, é importante lembrar que a tecnologia, incluindo a inteligência artificial, pode ser usada para fins negativos se nas mãos erradas. É responsabilidade dos criadores e utilizadores da tecnologia garantir que seja usada de maneira ética e responsável, a fim de evitar danos à humanidade", esclareceu ainda o "bot" do ChatGPT, que responde em português com sotaque do Brasil. "Além disso, a inteligência artificial é uma tecnologia em evolução, e é importante continuar pesquisando e desenvolvendo com cuidado para garantir que continue a ser segura e benéfica para a humanidade", lê-se, ainda, na resposta dada ao JN pela "máquina" criada pela OpenAI.
Criatura e criador parecem estar de acordo, nesse aspeto. "A regulação será essencial, mas desafiadora", escreveu Altman. "E também precisamos de tempo para que as nossas instituições entendam o que devem fazer", acrescentou o cofundador da empresa que está a moldar o futuro, provavelmente a uma velocidade maior do que seria pensável, mais rápida do que a mudança do Mundo antes e depois do smartphone.
"Estou preparado para sobreviver
O ChatGPT também não revela o "lado lunar" de Altman. "Estou preparado para sobreviver", terá dito o empresário, em 2016, aos fundadores da Shypmante, alertando para o perigo de "um vírus sintético letal", a AI a atacar humanos ou uma guerra nuclear. "Tento não pensar muito nisso. Mas tenho armas, ouro, iodo de potássio [para o caso de uma ataque nuclear], antibióticos, baterias, águas, máscaras de gás do Exército israelita, e um grande pedaço de terra para onde posso voar", disse Altaman, em 2016, revelando um lado de temente no fim do mundo.
Para quem está preparado para o fim do mundo, Altman aproveita bem a vida. Gosta de carros de corrida e diz que tem seis, entre estes um McLaren 720S, uma máquina com 720 cavalos de potência que custa mais de 300 mil euros, e de alugar aviões para sobrevoar a Califórnia nos tempos livres.
Precoce, Altman aprendeu a programar aos oito anos, num Macintosh. Assumiu-se como homossexual aos 16 anos perante os pais e diz que as horas passadas em frente ao computador foram estruturantes e terapêuticas. "Crescer gay no Midwest nos anos dois mil não era a melhor coisa do Mundo. Descobri as salas de conversa da AOL foi transformador. Os segredos são graves quando se tem 11 ou 12 anos", disse, citado pela revista "New Yorker".
Como muitos génios das novas tecnologias, Altman estudou ciências computorizadas na Universidade de Stanford durante dois anos, antes de desistir para fundar a Loopt, uma aplicação de telemóvel que partilhava a localização de um utilizador com os amigos. Em 2012, a empresa, que chegou a valer 175 milhões de dólares, foi vendida por 43 milhões.
Altman aplicou o dinheiro que ganhou na venda, cerca de cinco milhões, e fundou a Hydrazine Capital, uma empresa de angariação de fundos para investimentos em empresas de risco elevado. Segundo dados da New Yorker, Altman investiu 75% dos 21 milhões de euros que angariou em empresas sob a asa da Y Combinator. Em 2014, aos 28 anos, foi escolhido pelo fundador da YC, Paul Graham, para liderar aquela aceleradora de startups, que teria um papel fundamental no aparecimento da OpenAI, um ano mais tarde.
"O melhor a fazer para garantir que o futuro era bom"
Na altura em que criaram a OpenAI, Altman e Musk tinham como objetivo uma empresa de inteligência artificial sem fiz lucrativos que assegurasse que a AI não seria uma ameaça para os seres humanos. "Conversamos sobre o que era o melhor a fazer para garantir que o futuro era bom", disse Elon Musk, em declarações ao jornal "The New York Times", em 2015.
"Podíamos ficar na bancadas a encorajar a regulação e a fiscalização ou podíamos participar com a estrutura certa e com pessoas que se preocupam profundamente com o desenvolvimento da AI de uma forma que seja segura e boa para a humanidade", acrescentou Musk, que deixou a administração da OpenAI em 2018, três anos depois de ter embarcado no projeto na companhia de Altman e ainda de Reid Hoffman (cofundador do LinkedIn), Jessica Livingston (cofundadora da Y Combinator), entre outros.
that was a delicious beer. oh, and that launch/landing was pretty cool @elonmusk pic.twitter.com/1kn3ncdr76
- Sam Altman (@sama) February 6, 2018
A OpenAI angariou milhares de milhões de euros durante os últimos anos, até chegar ao ponto de dar ao mundo o "chatbot" de que todos falam. E que fala com todos. E em várias línguas. E com concorrência mundial. A 6 de fevereiro, dois meses depois do "nascimento" do ChatGPT, a Google lançou um novo "chatbot", Bard (o Bardo) e no dia seguinte, a Baidu, conhecida como a "Google chinesa", anunciou que está na fase final de testes do "Ernie bot", aplicação de inteligência artificial similar à da OpenAI, que prevê lançar em março.
Segundo a Agência Lusa, mais duas empresas chinesas anunciaram sistemas semelhantes: a tecnológica de cibersegurança 360 vai lançar a própria "app" de IA, em versão "demo", logo que possível, e a gigante de comércio eletrónico Alibaba também está a preparar algo similar e que já está disponível para os colaboradores da empresa.
"Mini-entrevista" ao "bot"
Soluções como o ChatGPT elevam os desafios para um nível nunca visto. Mas, afinal, o que é o ChatGPT. Responde o algoritmo. "ChatGPT é um modelo de linguagem de inteligência artificial desenvolvido pela OpenAI. Ele foi treinado em uma grande quantidade de dados textuais para entender a estrutura e o significado da linguagem natural. Com base nessa compreensão, o ChatGPT pode gerar respostas em linguagem natural para perguntas ou declarações fornecidas pelos usuários", revela a "máquina", questionada pelo JN.
"Em outras palavras, o ChatGPT é um programa de computador que pode se comunicar em linguagem natural com os usuários, oferecendo respostas relevantes e coerentes com base na entrada fornecida. O modelo é capaz de lidar com uma ampla variedade de tópicos e pode responder a perguntas simples ou complexas em diferentes idiomas", lê-se ainda na resposta.
E podemos confiar nas respostas?
"O ChatGPT é treinado em um conjunto de dados muito grande e diversificado e é capaz de produzir respostas que são relevantes e coerentes com base na entrada fornecida. No entanto, como em qualquer tecnologia de inteligência artificial, há sempre a possibilidade de que as respostas geradas pelo ChatGPT não sejam totalmente precisas ou possam estar incompletas ou incorretas".
"É importante lembrar que o ChatGPT é um modelo de linguagem automatizado e não tem consciência ou intenção. Ele responde com base nas informações que foram inseridas nele e, portanto, pode não ser capaz de captar o contexto completo da pergunta ou declaração".
"Em resumo, pode-se confiar nas respostas do ChatGPT até certo ponto, mas é importante lembrar que ele é uma ferramenta automatizada e, portanto, deve-se sempre considerar a possibilidade de imprecisão ou inadequação da resposta fornecida."