A conceituada universidade francesa Sciences Po proibiu os alunos de utilizarem o ChatGTP, um software de inteligência artificial que funciona como uma plataforma de conversação. O JN foi ouvir responsáveis de universidades e politécnicos portugueses, que se demarcam da proibição. Defendem, antes, que obriga a uma reflexão sobre o atual modelo de ensino. Até porque, ilustram, proibir é "tentar parar o vento com as mãos".
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A expressão foi usada pelos reitores das universidades do Porto e de Coimbra. "Em termos de aprendizagens pode ser muito útil, como o Google, uma fonte de informação que veio revolucionar o ensino", diz o reitor da UPorto. Para António de Sousa Pereira, "provavelmente o ChatGTP vai obrigar a repensar a forma do processo de ensino, de aprendizagem". Quanto aos riscos, recorda "notícias a dizer que já há software que permite detetar textos". Softwares que as instituições já utilizam para detetar plágios. Como em Coimbra, entendendo o reitor Amílcar Falcão que "a lógica das universidades francesas de proibir é a antítese do que é uma universidade, porque deve estar aberta ao conhecimento". Na sua opinião pessoal, "o ChatGTP é algo com que a UCoimbra tem que lidar, como lida com outra área do conhecimento".
"Como vamos ensinar mediante ferramentas como o ChatGTP?", questiona o presidente do Politécnico de Viana do Castelo. Para Carlos Rodrigues, "há um conjunto de desafios" a que a instituição está "atenta e a trabalhar em inovação pedagógica".
Repensar o ensino
Na mesma linha de pensamento, o presidente do Politécnico de Bragança diz que importa "refletir, inovar e perceber que competências o mercado de trabalho está a requerer". Porque "se estamos a basear o ensino em competências que facilmente são substituídas por uma máquina, o nosso trabalho não é útil".
Orlando Rodrigues recorda a chegada da calculadora. Tal como o reitor da Universidade de Aveiro, Paulo Jorge Ferreira, em artigo de opinião publicado no JN: "O aparecimento de calculadoras, computadores, corretores ortográficos e outras formas de escrita e tradução assistida também suscitou dúvidas legítimas. Mas a tecnologia de que duvidámos ontem é a que nos ajuda hoje, no nosso dia a dia".
O que é?
Lançado em novembro de 2022 pela empresa norte-americana OpenAI, o ChatGTP é um software de inteligência artificial que simula, online, uma conversa, permitindo respostas em poucos segundos. Em apenas dois meses, registou mais de 100 milhões de utilizadores.
A universidade Sciences Po anunciou a proibição do uso do chatbot nas avaliações. "É proibido aos alunos enviarem trabalhos para correção ou avaliação que tenham sido concluídos por outra pessoa que não eles", lê-se no comunicado.