Para o bem ou para o mal, 2020 será um ano histórico para o TikTok. Com 800 milhões de utilizadores fora da China e a gozar de um crescimento sem precedentes em todo o Mundo (só em Portugal, ganhou meio milhão de seguidores entre fevereiro e maio deste ano), a aplicação de microvídeos caseiros, de danças, partidas e imitações várias é já um sucesso comercial inegável.
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Mas se no "feed" o espírito da comunidade se mantém divertido, cá fora as coisas ficaram sérias esta semana. Preocupado com a enorme popularidade da aplicação detida por uma empresa chinesa, Donald Trump deu um prazo de 45 dias para que o TikTok passe para mãos norte-americanas (a Microsoft está na corrida).
De outro modo, o acesso à rede será vedado nos EUA, como já aconteceu na Índia, também por receio de que a informação recolhida na aplicação chegue às mãos das autoridades chinesas. Potenciais más notícias para a indústria da música que tem beneficiado, como nenhuma outra, do sucesso do TikTok. Que o digam Lil Naz X, Doja Cat, Megan Thee Stalion ou K Camp, que praticamente do dia para a noite chegaram ao topo das tabelas de streaming internacionais pelo facto de as suas músicas se terem tornado virais naquela rede.
Algoritmo democrático
A viralidade acontece por várias razões: fazer vídeos no TikTok é fácil, o som é uma componente fundamental na edição dos já famosos vídeos de 15 segundos e, sobretudo, a jovem comunidade do TikTok - sim, quem entra fica com a sensação de que alguém retirou os adultos da sala - organiza-se em torno de desafios que passam muitas vezes por associar uma coreografia a um trecho musical.
Se o desafio se torna popular, e o algoritmo está desenhado para promover o que é popular, então, a música que o motiva torna-se também. Foi assim que "Lottery (Renegade)", de K Camp, explodiu na rede depois de uma miúda de 14 anos, de Atlanta, nos EUA, ter inventado a "Renegade Dance" (foram feitos mais de 30 milhões de vídeos na plataforma com a música). Mas foi assim também com "Say so", de Doja Cat, e com "Savage", de Megan Thee Stallion.
Já com "Old town road", de Lil Naz X, o maior sucesso já criado pela rede, não foi a música a dar origem a um desafio, mas ela serviu na perfeição um já criado, o #yeehawchallenge. "Uno", de Ambjaay, "This city", de Sam Fisher, "Vibe", de Cookiee Kawaii - a "playlist de hits made in TikTok" está cada vez mais extensa, proporcionando a estes artistas, quase sempre jovens, novos contratos discográficos, colaborações com estrelas da pop e do hip hop e sobretudo muita promoção individual.
"Acabaram-se os "gatekeepers" na indústria da música", arrisca-se a dizer Curtis Waters, um jovem de 20 anos, residente nos EUA, entrevistado pelo "Guardian" pelo enorme sucesso que a sua música "Stunnin" teve no TikTok. Há uma década, outra plataforma de vídeo, o YouTube, deu ao mundo artistas que viraram celebridades, como Justin Bieber ou Ed Sheeran. Se o TikTok o fará, logo se verá. Para já, a rede é um enorme sucesso comercial com alguns problemas. O político é só o mais imediato.