Um dos mais importantes jornais do Brasil vai deixar de publicar notícias no Facebook. Mais do que uma birra contra a decisão da rede em esconder as publicações de páginas, representa um sinal de alerta na luta contra as notícias falsas.
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Em Portugal, 64% dos consumidores de notícias usam a rede para se manterem informados e, nos EUA, dois terços.
Mas é do Brasil, onde mais de 70% da população usa estas plataformas para se manter informada, que surgiu a primeira resposta ao ataque do Facebook às páginas, que passam para segundo plano em detrimento dos perfis pessoais. A "Folha de São Paulo" é o primeiro grande órgão de comunicação social a deixar de publicar notícias nesta rede social.
Olhando para os números da "Folha", podemos ver que esta resposta pode ser o primeiro nível num jogo complicado que inesperadamente chega ao Facebook. O jornal de São Paulo tem mais de cinco milhões de seguidores que interagem diariamente com as publicações deste jornal. Publicações que são notícias, escritas por jornalistas creditados. O que é que isto nos diz?
Bem, pode ser o maior tiro nos pés do Facebook na luta contras as notícias falsas, num ano de eleições naquele país. Os riscos são vários e estão assinalados. Este é o primeiro ano em que o financiamento a partidos políticos por empresas privadas é controlado. Assim, e em resultado da diminuição de dinheiro disponível para as campanhas, a aposta passa pelo digital, sendo as redes sociais o canal preferido pelos principais partidos.
A tensão entre direita e esquerda atingiu níveis nunca antes vistos após o " impeachment" de Dilma, em 2016. O clima de crispação tem no universo digital o seu campo de batalha. Em blogues e redes sociais surgem várias mentiras, que depois são partilhadas sem filtro. Ainda há muitos brasileiros que acreditam, por exemplo, que um dos filhos de Lula é o verdadeiro dono da empresa agropecuária Friboi, envolta em polémica com a justiça.
Ao afastar da rede as publicações de jornais, abrem-se as portas a todo o tipo de desinformação. O Brasil é dos países com mais utilizadores nas redes sociais e mais um escândalo a envolver as notícias falsas, depois do que aconteceu nos EUA e no Brexit, pode representar a machadada fatal na credibilidade do Facebook.