Uma "etiqueta" agarrada à malha das redes de pesca emite um sinal acústico, que um veículo do INESC TEC reconhece e consegue localizar.
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Se um pescador perder uma rede no oceano, nunca mais a consegue recuperar, certo? Errado. A resposta ao problema já foi dada pelo Centro de Robótica e Sistemas Autónomos do INESC TEC. Até porque o prejuízo não é só dos pescadores. As malhas libertam microplásticos, que poluem a água, e transformam-se em "redes fantasma", já que continuam a capturar peixes, que morrem presos.
Para que funcione, só é preciso que o pescador coloque na rede "um pequeno sinalizador acústico", em forma de cilindro. A peça e a rede são encontradas por um robô desenvolvido pelo INESC TEC, no Porto.
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"O cilindro emite um sinal que o robô conhece e, através de dois recetores, percebe qual a direção e distância e aproxima-se de forma autónoma. Pode agarrar a rede ou transportar um gancho que a agarra e recupera. É um problema não só pelo custo da rede, mas também porque fica a matar peixes", explica José Miguel Almeida, também coordenador do centro de robótica. O sistema foi criado da forma "mais simples possível", acrescenta o também professor do Instituto Superior de Engenharia do Porto e "pode ser operado pelo próprio pescador".
Desde cartografar o fundo do mar à exploração da vida marinha, há robôs para tudo e, para Nuno Cruz, professor da FEUP e coordenador do centro de robótica do INESC TEC, as máquinas são mesmo a melhor hipótese de estudar um oceano tão vasto. "Se queremos estudar o que se passa aqui, não há outra hipótese que não seja criar robôs. Temos quase 0% de área explorada. Se quisermos mesmo conhecer, numa primeira fase, temos de criar os meios", refere. E é precisamente isso que o centro de robótica está a fazer.
"Estamos a criar condições para nós próprios fazermos projetos de investigação e conhecer melhor o mar português. Temos um mar complicado: é grande, profundo, e é perigoso. Mergulha-se no Atlântico, e há areia, correntes... ", observa Eduardo Silva, do INESC TEC/ISEP.
Câmara hiperbárica
E para conhecer realmente o que se passa debaixo de água é preciso mais do que cartografar os fundos. Aliás, estudar espécies que vivem a grande profundidade é muito difícil.
"Quando trazem os animais à superfície, eles morrem" devido às diferenças de pressão, explica Eduardo Silva. "Fizemos um trabalho em que uma câmara hiperbárica vai ao fundo, recolhe os animais com a pressão a que eles vivem, traz à superfície e transfere-os para outra câmara que mantém a pressão. É tecnologia de robôs para criar condições à investigação dos biólogos", clarificou.
E há até máquinas que podem ficar no fundo do mar por longos períodos de tempo a recolher dados. Chamam-se "Turtle" e reposicionam-se autonomamente e sobem à superfície para manutenção.
Pormenores
Petróleo
O INESC TEC também desenvolveu robôs que podem ajudar a reduzir manchas de petróleo, no caso de descarga acidental. O equipamento espalha bactérias locais pela água que conseguem degradar o petróleo rapidamente. Foi isso, aliás, que aconteceu com o desastre do Prestige.
Minas inundadas
Em minas inundadas em terra, há vários veículos que conseguem mapear a infraestrutura e perceber se é viável que volte a funcionar mediante os minerais que lá existirem.
Inspeção
Com os projetos de energia offshore a ganharem relevância, o INESC TEC está a desenvolver projetos para inspecionar e monitorizar essas infraestruturas remotamente.
8 mil metros é o máximo de profundidade no Oceano Atlântico, sendo que a média será de cinco mil metros