O ex-vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre, Brasil, procurado pela Interpol por alegado desvio de 2,5 milhões de reais (791 mil euros), voltou a ser notícia no Brasil, depois de ter sido visto em imagens de televisão a abraçar António Costa, após a vitória nas primárias do PS.
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Na noite de 28 de setembro, Adelino Vera-Cruz Pinto surge ao lado de António Costa a celebrar os resultados das eleições, em imagens transmitidas pela TVI.
Adelino Pinto, 52 anos, "segue vivendo livremente em terras além-mar", escreve o jornal brasileiro "Zero Hora", referindo que o ex-vice-cônsul tem um mandado de captura decretado pela justiça brasileira e é procurado pela Interpol.
O mesmo jornal explica que Adelino Pinto, nomeado no Governo de José Sócrates, terá desviado fundos da Arquidiocese da Igreja Católica Capital, num negócio que envolvia "financiamento do Governo português para restaurar igrejas de origem lusa no Rio Grande do Sul".
"Em dezembro de 2010, sob a promessa de obter recursos de Portugal para obras em paróquias, o então vice-cônsul de Portugal em Porto Alegre convenceu a Arquidiocese da Igreja Católica da Capital a depositar 2,5 milhões de reais na conta bancária dele em contrapartida a uma doação de 12 milhões de reais por meio de uma ONG belga dirigida por Teresa Falcão e Cunha. A entidade e a mulher nunca foram localizadas. A verba jamais apareceu. Pinto não devolveu o dinheiro", pode ler-se no jornal brasileiro.
O caso também foi notícia por cá. À data, os jornais portugueses referiram que Adelino Pinto teria recebido mais de um milhão de euros e gasto o dinheiro em spas, hotéis, restaurantes, farmácias e lojas de informática. O Ministério dos Negócios Estrangeiros abriu um inquérito e acabou por demiti-lo com justa causa, com efeitos a outubro de 2011. As conclusões do processo disciplinar foram enviadas para o Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa que abriu um inquérito.
Mas o caso sofreu um volte-face. Em dezembro daquele ano, uma mulher, tradutora do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, remeteu para o Brasil uma declaração que tenta ilibar o ex-vice-cônsul do crime de burla.
Num documento manuscrito, datado de 2 de dezembro de 2011, então divulgado pelo jornal "Público" e que constará do processo-crime no Brasil, Maria Teresa Ferreira de Almeida Monteiro (filha do fundador do Serviços de Informações e Segurança) diz ter sido ela e Teresa Falcão e Cunha que receberam "todo o dinheiro" dos pagamentos efetuados pela arquidiocese de Porto Alegre.
Maria Teresa Monteiro comprometia-se então a pagar a "totalidade do valor recebido", em duas tranches, sendo o primeiro pagamento a 30 de junho e o segundo a 31 de dezembro de 2012.
Nas entrevistas que concedeu a jornais portugueses, Adelino Pinto negou sempre ter ficado com o dinheiro.
Em novembro de 2013, foi julgado à revelia num tribunal brasileiro, depois de ter faltado a uma audiência.
A legislação portuguesa impede a extradição de portugueses para o Brasil, mas o ex-diplomata poderá ser julgado em Portugal pelo mesmo caso, na sequência da investigação do DIAP.