Carlos Sá comprou a tenda hipóxica para se preparar para bater o recorde de subida ao Aconcágua, nos Andes, Argentina. "Estamos a falar de uma altitude de praticamente 7000 metros, onde temos pouco mais do que 30% do oxigénio, o que me obrigaria a uma estadia em altitude de cerca de 30 dias para me poder aclimatar e estar nas melhores condições. Com este equipamento acabei por conseguir fazer esse mesmo desafio em apenas 15 dias", conta o atleta.
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Passa noites alternadas na tenda e na cama, até pela saúde familiar - "A minha esposa não dorme na tenda..." , frequência que aumenta quando prepara algum aventura. "A máxima concentração de glóbulos vermelhos ocorre ao fim de 24 dias, portanto o ideal será utilizar (a tenda) pelo menos um mês antes destes grandes desafios".
Sente resultados mensuráveis? "Não consigo dizer", admite Carlos Sá, que prefere atribuir o sucesso a um conjunto de circunstâncias, que vai da qualidade do sono à da alimentação, passando pela focagem no desafio, pelo treino e pelo estado de alma no dia da aventura. Carlos Sá, vencedor da Badwater 2013, no Vale da Morte, EUA, foi recentemente o quarto classificado e primeiro europeu na Maratona das Areias, no Saara.
O próximo desafio é o sexto pico mundial, o Cho Oyo, no Tibete. "É uma montanha onde os alpinistas conseguem chegar ao cume ao fim de 40 dias. Se eu em 20 ou 25 o conseguir fazer, consigo poupar aqui 20 dias de estadia em altitude e chego lá muito mais forte, porque a permanência acima dos 5000 metros degrada o nosso corpo a cada dia que passa". E a verdade é que se consegue notar, garante o treinador do atleta e da Armada Portuguesa do Trail, Paulo Pires: "Quando fomos ao Aconcágua, o Sá já tinha dormido (na tenda) umas semanas antes e estava muito mais aclimatado, a saturação de oxigénio dele era sempre superior à minha entre dez a 12 pontos".
O equipamento de hipóxia é usado por vários atletas portugueses, entre eles Vanessa Fernandes, por exemplo, mas existe quase só em federações de modalidades de resistência e performance (atletismo, triatlo, canoagem, natação, ciclismo), em que é utilizado para treino e não para dormir. "Evita que tenham de deslocar-se para os Alpes, ou para os Pirinéus, ou para as montanhas dos EUA, como fazia Rosa Mota, que deve ter sido das primeiras portuguesas a utilizar o treino em altitude", lembra Pedro Amorim, coordenador do estudo sobre as repercussões do uso destas tendas.