O ex-ministro da Cultura do Governo PS, Pedro Adão e Silva, quer responder no Parlamento a "todas as questões" levantadas pela atual ministra. Dalila Rodrigues, que está a ser ouvida esta quarta-feira na comissão parlamentar, acusa o seu antecessor de "assalto ao poder no CCB".
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O anterior titular da pasta da Cultura, Pedro Adão e Silva, espera ser chamado à Assembleia da República "o mais rapidamente possível", para rebater as acusações que lhe fez a atual ministra, Dalila Rodrigues, em audição parlamentar.
Contactado pela agência Lusa, Adão e Silva respondeu, por escrito, que não está a acompanhar a audição da ministra, por estar ausente do país, mas dos relatos que lhe chegaram regista que Dalila Rodrigues "tem tido como únicas formas de afirmação exonerar dirigentes, desmantelar o trabalho feito e, agora, lançar injúrias graves".
"Essa postura tem sido muito prejudicial para as políticas culturais e explica o abandono que o setor sente, e que tem manifestado", acrescenta Pedro Adão e Silva, que foi ministro da Cultura entre março de 2022 e abril de 2024, no 23.º Governo liderado pelo socialista António Costa.
"Assalto ao poder": acusa Dalila
A ministra da Cultura do atual governo AD, Dalila Rodrigues, acusou no Parlamento o seu antecessor de ter feito um "assalto ao poder" no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, garantindo "que acabaram os compadrios na instituição".
Pedro Adão e Silva disse à Lusa que espera, "o mais rapidamente possível, ser chamado à Assembleia, para esclarecer todas as questões, em particular sobre o CCB", uma instituição que encontrou "capturada pelo senhor José Berardo e de costas voltadas para as artes performativas".
E elencou o trabalho feito: "Hoje, no CCB, temos um novo museu, a coleção Elipse em depósito, e tínhamos uma presidente do Conselho de Administração [Francisca Carneiro Fernandes] que foi capaz de promover um diálogo com o setor e abrir este equipamento às artes performativas", conclui Adão e Silva.
Na audição parlamentar sobre a situação no CCB, que foi requerida pelo Bloco de Esquerda e pelo Partido Socialista na sequência da exoneração da anterior presidente da fundação, Francisca Carneiro Fernandes, e o "novo rumo" para a instituição, a ministra da Cultura disse que, com o seu Governo, "acabaram os compadrios, lobbies e cunhas que levaram à constituição da atual equipa do CCB", conforme o JN já noticiou.
Ataque frontal a Adão e Silva
"Demitida que está, exonerada que está, afastada que está a sua presidente, está, evidentemente, a abordagem a este assalto ao poder, assalto ao CCB, que é absolutamente inadmissível nos termos em que foi realizado pelo ex-ministro da Cultura, doutor Pedro Adão e Silva", disse frontalmente Dalila Rodrigues sobre a exoneração de Francisca Carneiro Fernandes, e as opções políticas do Governo para esta instituição.
Para Dalila Rodrigues, esta nova postura do Ministério da Cultura decorre de um "novo ciclo", que "implica novas metodologias e novas abordagens", nomeadamente "manifestação de interesses" e "abertura de concursos".
Dalila Rodrigues está a ser ouvida, em audição regimental e sobre a situação no CCB, na comissão parlamentar de Cultura.
Exonerada antes de cumprir um ano
O Ministério da Cultura exonerou a 29 de novembro a presidente do conselho de administração da Fundação CCB, Francisca Carneiro Fernandes, anunciando a nomeação imediata para o cargo de Nuno Vassallo e Silva.
Francisca Carneiro Fernandes foi afastada nas vésperas de completar um ano como presidente da Fundação CCB, cargo para o qual tinha sido escolhida pelo anterior ministro Pedro Adão e Silva.
Francisca tenta impugnar saída
Esta quarta-feira, Francisca Carneiro Fernandes anunciou que vai "intentar uma impugnação deste ato administrativo", considerando que o seu afastamento do CCB foi "ilegal".
"Entre outros motivos que estão a ser estudados e que apontam para a ilegalidade da exoneração feita", Francisca Carneiro Fernandes indica "o facto [de esta] alegar como fundamento a falta de capacidade da ex-Presidente do CCB para garantir o cumprimento das orientações e objetivos transmitidos pela tutela", o que Francisca Carneiro Fernandes considera "totalmente falso, já que a Ministra da Cultura" nunca lhe transmitiu "quaisquer indicações ou objetivos que possam assim dar-se como incumpridos".