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O ambiente inflamado em que vivemos não ajuda a tomar boas decisões. Seremos capazes de retirar a carga que alimenta o ambiente aceso e ponderar as opções de forma consciente?
Avaliamos as ainda muito recentes eleições legislativas com este olhar crispado, alimentado por um erro que persiste: continuamos a tentar resolver o problema sem olhar para as causas.
O diagnóstico é quase unânime, mas até agora ninguém foi capaz de encontrar a chave. Da inócua mas sinalizadora conversa de café à aprofundada discussão na Assembleia da República, a conclusão é idêntica: aprofunda-se o afastamento entre eleitos e eleitores num processo que beneficia quem melhor sabe explorar esse vazio.
Enquanto o vale se aprofunda, ocupamo-nos a discutir as consequências, alertamos para as causas, mas continuamos incapazes de as combater. Insistimos no crescimento do extremismo, somos capazes de perceber porque cresce, mas incapazes de encontrar o caminho da solução.
Há uma imagem vulgar que ajuda a explicar esta situação: o balde de caranguejos em que todos tentam escapar, mas cujo sucesso individual é travado pelos restantes que puxam de volta quem se aproxima da saída, garantindo o fracasso do objetivo do grupo.
As tentativas de encontrar soluções para os problemas que enfrentamos vão sendo sucessivamente aniquiladas, beneficiando apenas quem não tem qualquer interesse em que sejam alcançadas.
As eleições legislativas e, muito em breve, as autárquicas podiam ser pequenos pontos de mudança numa boa direção, mas os sinais que vão surgindo mantêm-se insuficientes. Continua a troca de acusações e de responsabilidades, multiplicam-se as explicações, mas das soluções não há qualquer sinal à vista.