Brasileiros deportados dos EUA algemados e com pés acorrentados durante voo. Governo condena "desrespeito"
O governo brasileiro manifestou a sua indignação, este sábado, depois de dezenas de imigrantes deportados dos EUA terem chegado de avião algemados e com os pés acorrentados, chamando-lhe um “flagrante desrespeito” pelos seus direitos.
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A polémica surge no momento em que a América Latina se debate com o regresso ao poder de Donald Trump ao poder, com uma agenda anti-imigração de linha dura, prometendo repressão da migração irregular e deportações em massa.
Quando o avião aterrou na cidade de Manaus, no norte do país, as autoridades brasileiras ordenaram aos funcionários norte-americanos que “retirassem imediatamente as algemas”, informou o Ministério da Justiça em comunicado. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, informou Lula da Silva sobre “o flagrante desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros”, segundo o comunicado.
Os responsáveis norte-americanos queriam manter os passageiros algemados, mas as autoridades brasileiros não autorizaram, por se tratarem de cidadãos livres no seu país. "Os brasileiros que chegaram algemados foram imediatamente libertados das algemas", afirmou a Polícia Federal, "em garantia da soberania brasileira em território nacional". As autoridades forneceram colchões, atendimento médico e água aos passageiros, que precisaram de permanecer a noite toda numa sala do aeroporto, até à partida para Belo Horizonte.
Uma fonte governamental disse à AFP que o voo de deportação não estava diretamente ligado a quaisquer ordens de imigração emitidas por Trump após a sua tomada de posse na segunda-feira, mas sim a um acordo bilateral de 2017. O voo tinha como destino inicial a cidade de Belo Horizonte, no sudeste do país, mas deparou-se com um problema técnico que o obrigou a aterrar em Manaus.
Um comunicado da Polícia Federal do Brasil informou que o avião chegou na sexta-feira à noite com 88 brasileiros a bordo, mas o governo do estado do Amazonas, cuja capital é Manaus, disse que havia 79 passageiros - 62 homens, 11 mulheres e seis crianças.
“Ao tomar conhecimento da situação, o presidente Lula determinou que uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) fosse mobilizada para transportar os brasileiros até o destino final, a fim de garantir que pudessem concluir a viagem com dignidade e segurança”, informou o Ministério da Justiça.
Trump prometeu uma repressão à imigração ilegal durante a campanha eleitoral e começou seu segundo mandato com uma enxurrada de ações executivas destinadas a reformular a entrada nos Estados Unidos. No primeiro dia no cargo, assinou ordens declarando uma “emergência nacional” na fronteira sul dos EUA e anunciou o envio de mais tropas para a área, enquanto prometia deportar “estrangeiros criminosos”.
Desde segunda-feira, vários voos de deportação têm atraído a atenção do público e dos meios de comunicação social, apesar de estas ações também terem sido comuns em anteriores presidentes dos EUA. No entanto, numa rutura com a prática anterior, a administração Trump começou a utilizar aviões militares para os voos de repatriamento, tendo pelo menos um aterrado na Guatemala esta semana.
O avião que aterrou em Manaus não era um avião militar, confirmaram jornalistas da AFP na cidade.