Ramalho Eanes recebeu, esta segunda-feira, o Grande Prémio Ilídio Pinho, numa cerimónia que decorreu no Salão Nobre dos Paços do Concelho, no Porto. Perante uma plateia com dezenas de convidados de vários quadrantes da sociedade portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa foi a grande ausência da cerimónia.
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O presidente da República terá ficado retido em Oslo, na Noruega, após uma avaria no Falcon da Força Aérea Portuguesa. O chefe de Estado foi assistir ao jogo da seleção portuguesa de andebol, que terminou o mundial da modalidade em 4.º lugar. Em substituição, José Pedro Aguiar-Branco, presidente da Assembleia da República, presidiu à entrega do prémio.
Durante o discurso, o general Ramalho Eanes mostrou-se sensibilizado com a distinção, mas frisou que “não merecia homenagens”. O antigo presidente da República vincou que não aceitou o valor pecuniário de 100 mil euros associado ao prémio, que considerou uma "atribuição excessivamente generosa". “Desde muito cedo vi morrer homens em combate pelo país e com a pátria financeiramente pobre tratava os seus descendentes. Prometi a mim mesmo que nunca receberia mais proventos dos que me eram devidos pela minha atividade”, referiu, antes de falar sobre o que é ser português. O prémio Ilídio Pinho premeia personalidades que trabalhem na promoção, divulgação e defesa dos valores da portugalidade.
Voltado para o futuro, Eanes afirmou que com "realismo" o povo pode criar o "futuro que deseja e merece", "um futuro com sentido e propósito que possa trazer felicidade à maioria dos portugueses".
Exemplo maior de cidadania
O presidente da Assembleia da República notou que “há pessoas maiores do que o seu tempo” e referiu que a palavra de Ramalho Eanes foi “sempre escutada por ser um exemplo maior de cidadania”, observando que o país "deve muito" ao antigo presidente.
Também Ilídio Pinho, presidente da Fundação Ilídio Pinho, exortou a capacidade de liderança enquanto general e, mais tarde, como o "primeiro presidente democraticamente eleito pelos portugueses". "Foi o homem que mais poder teve nas mãos e mais poder soube distribuir. Tem a máxima autoridade", reconheceu.
Já o ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, destacou a figura de Ramalho Eanes como "referência para tantos portugueses" e "farol da integridade, verticalidade e ética". "Reconhecemos autoridade, sem nunca lhe termos vislumbrado qualquer autoritarismo", disse.
Ramalho Eanes recebeu a medalha do prémio Ilídio Pinho pelas mãos de Aguiar-Branco. O diploma foi entregue por Rui Moreira.
Entre as personalidades presentes na cerimónia estava o arquiteto Álvaro Siza Vieira, que foi o galardoado na 2.ª edição do prémio, Elisa Ferreira, ex-comissária europeia, Manuel Pizarro, ex-ministro da Saúde, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, ou o Bispo do Porto, D. Manuel Linda.
Homem do presente
Na abertura da cerimónia, Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto, salientou “a vida dedicada a servir o país e a defender os valores da liberdade, do pluralismo e da tolerância” de Ramalho Eanes, vincando tratar-se de “um homem do presente” e um “verdadeiro senador da República”.
“O Sr. General António Ramalho Eanes é um dos pais fundadores do Portugal democrático. Foi um dos principais líderes do nosso processo de democratização, revelando firmeza e determinação em momentos decisivos para o fortalecimento do atual sistema político”, referiu.
O autarca do Porto lembrou que “numa altura em que proliferam os candidatos a presidente da República”, a “autoridade e lisura” do antigo chefe de Estado “não estão ao alcance de qualquer um”, disse.
Esta é a terceira edição da cerimónia do Grande Prémio Ilídio Pinho, organizado pela Câmara Municipal do Porto e pela Fundação Ilídio Pinho.
O prémio foi criado em 2022 e atribui 100 mil euros a cidadãs e cidadãos nacionais. Já distinguiu o cardeal D. José Tolentino de Mendonça e o arquiteto Álvaro Siza Vieira. A direção-executiva do prémio está a cargo de Carlos Magno.