O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) defendeu, hoje, em Fátima, a necessidade de mais esclarecimentos sobre as circunstâncias que levaram à queda do Governo e à atual crise política.
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D. José Ornelas falava no encerramento da Assembleia Plenária dos bispos portugueses, onde o episcopado expressou também preocupação pelo agravamento das condições de vida de muitas famílias e para a situação "dramática" em que se encontram as instituições sociais, algumas das quais, "correm o risco de encerramento".
"Todos temos o direito de saber", afirmou D. José Ornelas, convicto de que os portugueses têm “curiosidade em conhecer as razões, o processo, que levou à queda do Governo” e que são necessários "esclarecimentos mais aprofundados e clarificadores".
Considerando que "a democracia não está minimamente em causa", o presidente da CEP diz, no entanto, que é importante que a "credibilidade e plausibilidade" das instituições públicas não se perca e que haja "uma cultura de seriedade e de funcionamento dos organismos de controlo destas situações".
"Não creio que sejamos um país ingovernável, mas é preciso que não se perca a esperança, que não nos deixemos simplesmente cair na apatia perante as questões políticas e sociais que nos rodeiam", apelou o bispo, frisando que estas situações, que "levantam suspeitas de credibilidade das instituições", são "terreno fértil para populismos".
Fundo para apoio às vítimas
Durante a presente Assembleia Plenária foi aprovado um “Guia de Boas Práticas” para o tratamento de casos de abuso sexual de menores e adultos vulneráveis no seio da Igreja Católica, que visa “uniformizar procedimentos e garantir a adequada articulação”.
Na conferência de imprensa, D. José Ornelas anunciou ainda que a CEP irá constituir um fundo, através do qual serão pagas consultas e tratamentos às vítimas de abuso. Apesar de a responsabilidade financeira caber às dioceses envolvidas, esta é uma forma de "acelerar" os processos, explicou o bispo, que deixou ainda a garantia de que não estão excluídas outras formas de apoio, nomeadamente, financeiro, mas, especificou, esses casos serão tratados "pessoa a pessoa" e não de "não de forma generalizada nem por tabela". Segundo o prelado, neste momento, o grupo VITA, criado pela CEP, está a acompanhar oito vítimas e um abusador.
Questionado sobre dados da Polícia Judiciária que dão conta de um aumento das denúncias de abusos na Igreja, a maioria já prescritas, o bispo disse que “não serão casos recentes”, mas admitiu não poder garantir que tal não volte a correr,. “A nossa postura será sempre de tolerância zero”, garantiu.