O sindicato dos atores de Hollywood anunciou o início de uma greve que ameaça paralisar a indústria do cinema e da televisão nos Estados Unidos, após o fracasso das negociações com os grandes estúdios.
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As grandes estrelas também entrarão em greve?
O SAG-AFTRA representa tanto figurantes quanto as estrelas do cinema, portanto a previsão é que as estrelas se juntem aos piquetes do protesto. Meryl Streep, Ben Stiller e Colin Farrell já expressaram publicamente seu apoio à greve.
"As grandes estrelas estarão visíveis", considerou o advogado especializado na indústria do entretenimento Jonathan Handel.
Apesar de os maiores astros lidarem com contratos individuais e negociados pelos agentes, o sindicato discute o salário-base que protege os seus membros, acrescentou Handel.
O advogado especificou que "esta greve não é sobre dar mais dinheiro para quem tem milhões, mas sobre permitir que todos os atores possam continuar a pagar as suas contas".
O impacto vai além dos EUA?
A sede do sindicato fica em Los Angeles, mas a greve iniciada à meia-noite de quinta-feira não se limita aos Estados Unidos.
"Se os atores do SAG-AFTRA estiverem a trabalhar em filmes na Europa, Austrália, Ásia, ou em qualquer lugar que seja, têm que parar. Não apenas de atuar, mas também parar de promover os seus projetos", disse Handel.
"Se um filme do Festival de Veneza for filmado com atores do SAG-AFTRA, os atores não podem promover" a obra.
Os membros não podem participar de divulgações nas suas redes sociais, de acordo com as orientações do sindicato.
Como afeta os filmes e séries?
A greve dos argumentistas reduziu o número de produções, mas a adesão dos atores vai atrasar o calendário dos próximos filmes e das novas temporadas das séries.
Novelas, reality shows e competições poderão continuar, porque os seus apresentadores e protagonistas estão sob outro contrato que expira só no próximo ano, explicou Handel.
As plataformas divulgaram uma programação repleta de programas de competição para o outono, como a Fox, com "Kitchen Nightmares" e "Lego Masters".
É possível que o SAG-AFTRA considere manter os protestos longe dos filmes que sejam verdadeiramente independentes, sem financiamento, ou sem distribuição de grandes companhias.
Qual é o impacto económico?
O coração de Hollywood é a indústria do entretenimento.
Uma pausa nas produções afetará diversos negócios do setor de serviços, além da área criativa.
Não há números recentes, mas há precedentes.
"Há 15 anos, quando os argumentistas ficaram em greve durante 100 dias, a estimativa foi de perdas de pouco mais de 1,87 mil milhões de euros, quase 18 milhões de euros perdidos por dia".
Com o ajuste da inflação, explicou Handel, a atual paralisação pode registrar perdas de 27 milhões de euros por dia, apenas na Califórnia.
A presidente do SAG-AFTRA, Fran Drescher, diz sentir-se "arrasada" com a decisão e com o impacto da greve, mas assegurou que "não tivemos escolha".
Quais são as reivindicações?
O sindicato pede aumentos salariais que acompanhem a inflação, além de ajustes no cálculo dos pagamentos "residuais" que os atores recebem pela reexibição dos programas.
"Um sucesso como 'Wandinha' não gera mais residuais do que um programa que não vinga. Os atores querem a métrica de sucesso para medir os pagamentos residuais", explicou Handel.
Os atores também querem que o uso da Inteligência Artificial (IA) seja definido.
O advogado afirma que "os atores estão preocupados com a ideia de serem substituídos pela Inteligência Artificial. Querem compensações, caso o seu trabalho seja usado para treinar a IA, ou se a tecnologia gerar versões simuladas deles".
Quanto tempo pode demorar esta greve?
Drescher argumentou na quinta-feira que a duração da greve dependerá dos estúdios.
"Estamos abertos para conversar esta noite", disse.
No entanto, declarações como a do CEO da Disney, Bob Iger, que considerou as exigências dos atores e argumentistas "não realistas", sugerem que o conflito pode durar mais tempo.
"Isto vai-se estender, e não se resolverá facilmente, porque é uma luta existencial para ambos os lados. E há muita angústia entre os argumentistas e os estúdios, e os atores e os estúdios", disse Handel, que prevê a duração até o outono americano, que começa em setembro.
Os acordos virão eventualmente, acredita ele. "Mas quando? Como? E quem ganha ou perde? Não está claro, e não será fácil".