Donald Trump renovou, esta terça-feira, as ameaças das últimas semanas, não descartando utilizar as Forças Armadas dos Estados Unidos para tomar a Gronelândia e o Canal do Panamá - além de forçar economicamente o Canadá a tornar-se o 51.º estado dos EUA. Líderes mundiais reagiram e criticaram o presidente eleito.
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Numa longa conferência de imprensa na própria mansão, em Mar-a-Lago, o futuro chefe de Estado norte-americano voltou a atacar os adversários políticos e a Justiça dos Estados Unidos. O destaque foi, contudo, o reforço das ameaças contra o território dinamarquês da Gronelândia, o Canal do Panamá e o próprio vizinho gigante do Norte, o Canadá.
"Não me vou comprometer com isso", respondeu Trump ao ser questionado por um jornalista se descartaria o uso das Forças Armadas para conseguir o controlo da Gronelândia e do Canal do Panamá. "Pode ser que tenha de fazer alguma coisa. O Canal do Panamá é vital para o nosso país", ressaltou. "Precisamos da Gronelândia para fins de segurança nacional", acrescentou o magnata.
Algumas horas antes, a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, avisou, numa entrevista ao canal TV 2, que o território "não está à venda" e que "a Gronelândia pertence aos gronelandeses". As declarações surgiram após a notícia de que Donald Trump Jr., filho do presidente eleito, foi apenas como "turista" visitar Nuuk, a capital da ilha.
"Como aliada muito próxima dos Estados Unidos, penso que há razões para estarmos satisfeitos com o crescente interesse americano. Mas terá de ser feito de uma forma que respeite o povo gronelandês", completou. Copenhaga, assim como Washington, pertencem à NATO.
Esta quarta-feira, Bruxelas reagiu às respostas do futuro líder norte-americano. "Estamos a falar de coisas hipotéticas bastante loucas sobre um Governo que ainda não chegou", frisou um porta-voz da Comissão Europeia. Outra porta-voz, Paula Pinho, respondeu positivamente ao ser questionada se a Gronelândia estava abrangida pela clausúla de defesa mútua da União Europeia (UE). “Mas estamos realmente a falar de algo extremamente teórico sobre o qual não queremos entrar em detalhes”, alertou.
Paris defendeu as fronteiras da bloco europeu. "Não se trata de a UE permitir que outras nações do Mundo, sejam elas quem forem... ataquem as suas fronteiras soberanas", disse à rádio France Inter o ministro dos Negócios Estrangeiros de França, Jean-Noël Barrot, citado pela agência France-Presse (AFP).
O porta-voz do cessante Executivo alemão, Steffen Hebestreit, relembrou que, "como sempre, aplica-se o firme princípio de que as fronteiras não devem ser movidas pela força". Berlim referiu os acordos internacionais, como a Carta das Nações Unidas.
Já em relação ao Canal do Panamá, o ministro dos Negócios Estrangeiros panamenho, Javier Martinez-Acha, recusou ceder o controlo. "A soberania do nosso Canal não é negociável e faz parte da nossa história de luta", afirmou, em declarações reproduzidas pela AFP. Os Estados Unidos assinaram um tratado em que deram o controlo da infraestrutura ao Panamá - entre 1979 e 1999, houve um período de administração conjunta e, desde 1999, somente o país da América Central comanda a via marítima.
Espetro político canadiano recusa intimidação
Donald Trump rejeitou, no entanto, usar os militares para invadir o Canadá, referindo que usará a "força económica" dos Estados Unidos contra o vizinho, cuja fronteira é uma "linha desenhada artificialmente". Uma das promessas do republicano é, quando chegar à Casa Branca, impor uma tarifa de 25% aos produtos canadianos e mexicanos - e que o "Golfo do México" torne-se o "Golfo da América".
O conservador publicou ainda, na sua plataforma Truth, dois mapas do Canadá incorporado aos Estados Unidos. Há várias semanas o presidente eleito coloca bravatas nas redes sociais, chamando, inclusive, de "governador" ao primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau.
O demissionário Trudeau respondeu às declarações em Mar-a-Lago. "Não há a mínima hipótese de o Canadá se tornar parte dos Estados Unidos", escreveu no X (antigo Twitter). "Os trabalhadores e as comunidades de ambos os nossos países beneficiam do facto de serem os maiores parceiros comerciais e de segurança uns dos outros", acrescentou. O Canadá é um dos membros fundadores da NATO.
"A nossa economia é forte. O nosso povo é forte. Nunca recuaremos perante ameaças", salientou a chefe da diplomacia de Otava, Melanie Joly.
O líder dos conservadores canadianos e possível próximo chefe de Governo, Pierre Poilievre refutou também Trump. "O Canadá nunca será o 51.º estado. Ponto final", destacou, qualificando o país como o "melhor amigo" dos EUA. "Quando eu for primeiro-ministro, reconstruiremos as nossas Forças Armadas e retomaremos o controlo da fronteira para proteger tanto o Canadá como os EUA", prometeu.