“Não é coisa pouca, não desvalorize a resistência...” Passava já das 23 horas de domingo quando no quartel-general da CDU, em Lisboa, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, resumiu, num misto de desabafo e alívio, o ambiente que marcou a noite eleitoral da coligação entre comunistas e PEV.
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Pelas terceiras eleições legislativas consecutivas, a CDU perdeu deputados, passando, em menos de uma década, de 17 para, quatro parlamentares, com uma “percentagem abaixo” da alcançada em 2022.
“Significa um desenvolvimento negativo”, reconheceu Paulo Raimundo, ressalvando que tal constituiu, ainda assim, “uma importante expressão de resistência”. “Não é coisa pouca”, frisou, lembrando que, no início da campanha, foi-lhe perguntado como é que “encararia a hipótese de ser o primeiro secretário-geral que ia ter um partido nas mãos sem qualquer representação parlamentar”.
Até aqui fora da Assembleia da República, Paulo Raimundo era cabeça de lista por Lisboa e foi um dos quatro deputados eleitos pela CDU. Os restantes são António Filipe, segundo por Lisboa e que regressa à Assembleia da República após ter sido deputado entre 1989 e 2022, Paula Santos, reeleita por Setúbal, e Alfredo Maia, primeiro pelo Porto. Em relação há dois anos, a coligação perdeu o deputado por Beja, deixando assim de ter representação no Alentejo interior, bem como um segundo parlamentar por Setúbal.
Depois de várias horas de apreensão coletiva quase palpável na sala de um hotel, a noite acabou por terminar em festa, com Paulo Raimundo a discursar para uma plateia que incluiu, além do seu antecessor, Jerónimo de Sousa, e de Isabel Camarinha, ex-líder da CGTP, um elevado número de jovens. A eleição do último deputado foi conhecida quando já só se encontravam jornalistas na sala.
“Sociedade enganou-se”
A “falsificação de posicionamentos do PCP para alimentar preconceitos anticomunistas e estreitar o seu espaço de crescimento”, numa referência implícita à guerra na Ucrânia, a “promoção de forças [...] reacionárias” e a estratégia adotada pelos “dois candidatos a primeiro-ministro” foram algumas das causas apontadas pelo líder do partido para a queda da CDU.
“Partimos para esta batalha com a ideia de que a CDU ia desaparecer. [...] A sociedade enganou-se, porque o povo respondeu dizendo que a CDU faz falta”, afirmou, convicto de que, com mais duas semanas de campanha, a dinâmica teria sido “imparável”.
“É a força que temos, foi a expressão que o povo nos entendeu dar. É com esta força que nós vamos continuar a cumprir todos os compromissos que assumimos”, reiterou.