O primeiro-ministro afirmou que a moção de censura apresentada pelo Chega é um número mediático que "diz zero" aos portugueses. No Parlamento, António Costa argumentou que o único objetivo de André Ventura é "desafiar" PSD e IL. Com efeito, o debate ficou marcado pelas acusações mútuas entre os partidos de Direita.
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"A cada sessão legislativa, o Chega apresenta uma moção de censura", sublinhou o chefe do Governo. "E o que quer o Chega com estas moções de censura? Como aqui foi explicado, quer desafiar os seus parceiros de Direita", sustentou.
Nesse particular, argumentou Costa, a moção foi "um sucesso". Isto porque "embaraçou o PSD e leva de arrasto a IL", atirou, aludindo às divergências, entre os sociais-democratas, sobre como votar a moção - acabou por vencer a fação que defendia a abstenção -, bem como ao facto de os liberais terem decidido votar a favor.
"Estes exercícios que entretêm a bolha política e mediática dizem zero aos portugueses", completou o chefe do Governo, acrescentando: "O Governo foca-se nas soluções, o Chega fica parado nas confusões. E, enquanto a Oposição pára, o Governo avança e progride".
Costa perdeu pouco tempo a responder diretamente ao Chega, preferindo enumerar as conquistas que, a seu ver, o seu Executivo tem conseguido em várias áreas. Num desses momentos, anunciou que o Executivo vai aprovar uma medida que facilitará a "estabilização, por dois anos", da prestação da casa. Essa solução, referiu, dará mais "previsibilidade" às famílias portuguesas.
A moção de censura apresentada pelo Chega, recorde-se, é a terceira que o Executivo enfrenta na atual legislatura (as outras duas foram submetidas por Chega e IL). Tem chumbo garantido, devido à maioria absoluta do PS.
Direita troca acusações, Costa limita-se a observar
Embora a moção visasse derrubar o Governo, deixou a descoberto a discórdia existente entre os partidos da Direita. Primeiro, visando o PSD, Ventura considerou que todos os que não votarem a favor da moção "serão cúmplices de um Governo que tem destruído o país", vincando que "não se pode andar pelas feiras e feirinhas" a dizer que "o Governo não serve" mas, depois, amparar o Executivo.
Continuando a pressionar o PSD, o líder do Chega dramatizou: "O que mais destrói o nosso coração é saber que uma parte dessa alternativa [para um novo Governo] prefere puxar os lençóis e deitar-se com o PS".
A resposta social-democrata chegaria pela voz do líder parlamentar, Joaquim Miranda Sarmento: "O PSD não é o partido das moções, é o partido das soluções", afirmou, recebendo palmas. O social-democrata sustentou que o debate de quarta-feira, sobre fiscalidade, é que é verdadeiramente relevante.
Miranda Sarmento desafiou o Governo a aceitar "um pacto" com o seu partido sobre fiscalidade jovem. Ventura insurgiu-se: "Um pacto com o PS? Com este partido não há pactos", gritou, acrescentando que o que é preciso é dar ao Governo "uma coça até saírem dali".
Costa continuava ser um mero espectador. Quando voltou a tomar a palavra, não escondeu a satisfação: "Esta moção de censura serve, essencialmente, para demonstrar o estado da nossa Direita: se eles não se entendem sequer sobre a censura ao Governo a que se opõem, como é que se poderão alguma vez entender para apresentarem uma alternativa?".
IL junta-se ao debate das Direitas: moção é "infantil" e Chega fez "favor" ao Governo
A IL juntou-se ao debate interno da Direita com nova acha para a fogueira. João Cotrim Figueiredo reconheceu que a moção de censura é "um bocado infantil" e que o primeiro-ministro "deve estar relativamente satisfeito" com ela. Acusou o Chega de querer apenas "mais uns minutinhos de televisão", enquanto Costa "assiste de cadeira".
A discussão da moção de censura implicou que o debate com o primeiro-ministro, previsto para dia 27, tenha sido desmarcado, uma vez que o regimento não permite debates com o chefe do Governo nos 15 dias seguintes à discussão de moções de censura. Por motivos de agenda, ficou decidido que Costa só irá ao Parlamento em dezembro. Cotrim lembrou essa sucessão de acntecimentos para acusar o Chega de ter feito "um favor" aos socialistas ao apresentar a moção.
Antecipando-se às críticas do PS pelo facto de a IL votar a favor da moção de censura, Cotrim Figueiredo lembrou que os socialistas já votaram 92 vezes "ao lado do Chega". "Não aceitamos lições de moral", atirou, acusando o PS de ser "o grande responsável" pelo crescimento da extrema-direita.
Cotrim Figueiredo também clarificou as intenções dos liberais: "Queremos um Governo novo e queremos o Chega longe desse Governo", garantiu.
Habitação, IRS e TAP: as pistas que Costa deu
À Esquerda, Paula Santos, do PCP, afirmou que o Chega procura "iludir" os portugueses e esconder que, nas "questões estruturais", se coloca sempre "ao lado dos interesses económicos". Pedro Filipe Soares, do BE, considerou que a moção de censura é "um favor" que o partido de Ventura faz ao Governo, ironizando que Costa deveria ter trazido "um balde de pipocas" para assistir aos despiques entre os partidos de Direita.
Costa fez alguns anúncios ao longo do debate. Além da medida que visa estabilizar o custo das prestações na habitação, também afirmou que quem ganha o salário mínimo continuará, "com grande probabilidade", isento do pagamento de IRS em 2024. O tema tinha sido trazido pelo BE - que, em face de notícias recentes, exigiu um esclarecimento ao primeiro-ministro.
António Costa revelou ainda que o Governo vai aprovar, no Conselho de Ministros do dia 28, o diploma que irá estabelecer o enquadramento do processo de privatização da TAP.