Visitam Palácio da Brejoeira com receio que novos donos fechem o espaço ao público
Compra por dono da companhia aérea HiFly lança incerteza quanto ao futuro daquele património, ex-líbris de Monção.
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A notícia da venda do Palácio da Brejoeira, em Monção, atravessou fronteiras e quem nunca o havia visitado, mas tinha essa intenção, apressa-se agora a fazê-lo, face à incerteza do que possa acontecer quando os novos proprietários tomarem conta da propriedade.
A compra terá sido concretizada há alguns meses, sob acordo de confidencialidade, por um dos elementos da família Mirpuri (Lisboa), dona da companhia aérea HiFly, para alegadamente o oferecer à mulher. Mas, para já, o espaço ainda continua aberto aos visitantes.
A história por trás do negócio, que foi contada ao JN por fonte próxima do processo, parece dar continuidade ao “conto de fadas” iniciado em 1937 por um abastado empresário do Porto, que ofereceu o palácio à filha Hermínia d’Oliveira Paes, quando esta fez 18 anos e que o habitou até morrer com 97, em dezembro de 2015.
A Brejoeira abriu pela primeira vez ao público em 2011, ainda a anterior proprietária era viva, e desde aí tem recebido milhares de visitantes.
Na região teme-se agora que o comprador volte a fechar os seus portões, já que aquele património, monumento nacional desde 1910, se tornou ícone turístico e motor de desenvolvimento local.
Conservação necessária
“Seria uma pena fechar aquilo. Neste momento, a abertura ao público significa também muita coisa para Monção. Há muita gente que passa por ali e contribui muito para o desenvolvimento da própria terra em termos económicos e sociais”, afirma o historiador Ernesto Português, autor do livro “Palácio da Brejoeira - Dois séculos de história” (2019), considerando, por outro lado, que a venda pode ser “um momento importante” para aquele monumento, na medida em que este necessita de investimento na sua conservação.
“Não sei a que é que se destina, se pensam em turismo, mas o palácio é intocável. Não podem fazer o que quiserem dele, porque está resguardado em termos de património. O que sei é que, quem comprou, tem de investir uns milhões para o conservar”, afirma Ernesto Português, indicando que, nas visitas que fez no âmbito do trabalho de pesquisa para o seu livro, verificou que “são precisas obras”. “É preciso cuidar do palácio e para isso são necessárias verbas. Pode ser que isto [a venda] seja benéfico para o palácio e para Monção”, acrescenta.
Joia arquitetónica
Os sucessores (dois) de Hermínia Paes constituíram uma sociedade, em que o acionista maioritário é Emílio Magalhães, e colocaram a Brejoeira à venda, há quatro anos, por 25 milhões de euros.
Desconhece-se o valor da transação agora concretizada com um elemento da família Mirpuri e também que futuro está destinado à “joia” arquitetónica de Monção.
Segundo declarações de Emílio Magalhães, aquando da colocação do palácio à venda, o número de visitantes rondava, em finais de 2021, “cerca de 300 mil”.
O JN tentou agora contactar o administrador, mas sem êxito. Conseguiu, no entanto, apurar que o comprador já esteve na Brejoeira, onde se reuniu com as cerca de duas dezenas de funcionários, que trabalham tanto na quinta e adega e produção de vinho, como no contacto com o público e guias das visitas. A mesma fonte referiu que o investidor transmitiu que comprou o imóvel “porque a mulher queria ter um palácio, e não porque o queira dinamizar. E que o filho manterá a produção do vinho”. Por agora, o palácio continua a receber visitas.
Espanhóis aproveitam
Os espanhóis Fernando Caride, Maria Fernandez, Sónia Vidal e Óscar Nóvoa deslocaram-se de Vigo propositadamente para desbravar, finalmente, a beleza do imóvel e da sua envolvente, que, até aqui, apreciavam do lado de fora. Sempre prometendo que um dia haveriam de o visitar.
“Vimos na imprensa espanhola que o palácio teria sido vendido a árabes e viemos visitar antes que o fechem. Já há algum tempo que tínhamos vontade de vir, mas nunca o fazíamos. A notícia foi o que motivou. Dissemos: ‘espera, temos que ir, porque pode dar-se o caso de fechar’”, contou Fernando ao JN, após o grupo concluir a volta ao palácio, jardins e adega, acompanhado por uma das guias. “Perguntei-lhe sobre a venda, mas disse-nos que não sabia de nada”, indicou, comentando: “Acho que se isto mudar, pode perder-se o património. É uma pena que não o conservem”.
Maria, por sua vez, não esconde o receio pelo futuro do património. “Se for por bem, que seja para manter isto. Se calhar vão utilizá-lo como hotel boutique, mas, se o fizerem, acabam com as antiguidades todas que este palácio tem. As salas e os quartos estão como eram e se for um hotel desaparecem”, diz.
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Três torres
Ao palácio só lhe falta uma torre (possui três) para ser real. De resto, tudo é palaciano: do teatro ao jardim de inverno, junto à entrada, aos imponentes quartos e salões.
Bosque e vinha
A propriedade exterior da Brejoeira é composta por três jardins, um deles de camélias, bosque e uma quinta com 17 hectares de vinha que rodeiam o palácio.