Nova série cómica satiriza o sistema de produção atual de Hollywood e as suas sequelas infindáveis. Estreia esta segunda-feira nos ecrãs.
Corpo do artigo
Uma alfinetada de ironia crítica, cheia de sarcasmo, apontada aos filmes de super-heróis e às suas ilimitadas sequelas e franquias, é a nova proposta do realizador Sam Mendes, oscarizado pelo drama "Beleza Americana" (1999), com estreia marcada para esta segunda-feira na plataforma de streaming HBO Max.
"The Franchise" atira os espectadores para o interior da rodagem de um filme da saga fantástica "Tecto", produzido pelos fictícios Maximum Studios. O argumento é de Jon Brown com realização de Sam Mendes e produção executiva de Armando Iannucci.
"Quando eu cresci a fazer cinema, o modelo perfeito era um filme com princípio, meio e fim", afirmou Sam Mendes, que tem 59 anos, numa conferência de imprensa de lançamento da série. "E agora o modelo é um filme com princípio, meio e outro princípio, porque nunca acaba. Há um fluxo constante de tributos, 'spin-offs', séries de televisão, todos interconectados, um multiverso", apontou o cineasta, que tem ascendência portuguesa da parte do pai, que tinha família na Madeira.
O dilema do artista perante o comércio
A ideia para "The Franchise" surgiu numa conversa em que Mendes contou ao produtor Iannucci uma série de histórias engraçadas que viveu ao filmar "Skyfall" (2012) e "Spectre" (2015), filmes da saga do agente secreto James Bond.
"Ele contou-me a história de ter de assistir à apresentação de um novo carro Bond", disse Iannucci. "E pensei por que é que ele estava a fazer aquilo. Ele fez Shakespeare [antes de ser cineasta, Sam Mendes encenou teatro], ganhou um Oscar, logo, por que é que estava a fazer aquilo?", interrogou-se o produtor.
Este mesmíssimo dilema é explorado em tom de comédia em "The Franchise", e por vários lados: o realizador artístico que não quer ver a sua visão adulterada, o estúdio que exige mudanças comerciais, o ator sério que detesta o ator popular e bonito, a assistente incrédula, o produtor sempre à beira de um ataque de nervos, os atores exaustos com três horas de maquilhagem em cima.
"A pressão está sobre os cineastas"
Sam Mendes, no entanto, não quis criar uma sátira avulsa que apenas critica a existência destas sequelas, prequelas e trilogias com fases sem fim.
"Há o argumento que, se estes filmes não existissem, os cinemas fechavam completamente", apontou. "Há muitos ecrãs de cinema que não teriam nada para passar. Penso que o perigo é minimizar os 'franchises' e dizer que são maus, mas a verdade é que eles são a razão pela qual as pessoas vão ao cinema neste momento".
Mendes apontou que é "perfeitamente possível" fazer bons filmes destes, como "Batman -- O Cavaleiro das Trevas" ou "Black Panther", e que é importante não dividir a indústria em duas categorias redutoras, ou filmes sérios ou filmes de franquias.
"O desejo agora é que a audiência tenha um diálogo constante com a narrativa e os filmes querem refletir a experiência que as pessoas têm em casa", apontou Mendes. Por exemplo, os espectadores desenvolveram uma relação de anos com séries como "Os Sopranos" e "A Guerra dos Tronos", e os estúdios querem o mesmo para os filmes.
"Mas a pressão está sobre os cineastas para fazerem os filmes valer a pena e obrigarem-nos a usar toda a fanfarra do grande ecrã. Esse é o problema".
"É o sistema que é disfuncional"
Por seu lado, o 'showrunner' e argumentista Jon Brown explicou que um dos objetivos da série é perceber por que é que estes filmes são como são, mostrando a experiência de pessoas que dão por si metidas nestas grandes máquinas de Hollywood.
"Queríamos uma série sobre artistas que sabem o que estão a fazer, que são bons. A tragédia é que estão a fazer estes filmes, que são os únicos que podem fazer. E por isso estão encurralados", disse Brown. "É o sistema que é disfuncional, não os indivíduos", concluiu.
O ator alemão Daniel Brühl, que interpreta o realizador Eric, inspirou-se na sua própria experiência para compor a sua personagem, depois de ter participado num projeto que caracterizou como desastroso. "É muito verídico, surpreendentemente", comparou.
O elenco, que tem em Richard E. Grant a sua maior estrela, conta ainda com Himesh Patel, Aya Cash, Darren Goldstein, Billy Magnussen, Isaac Powell e Jessica Hynes.
Sam Mendes elogiou a química entre o elenco e disse que filmar foi uma delícia semanal, que o fez "rir às gargalhadas muitas vezes" durante a pós-produção.
"The Franchise" tem oito episódios de meia hora e estreia-se esta segunda-feira, 7 de outubro, na plataforma HBO Max, com um novo episódio por semana até 25 de novembro.