Única central do enclave palestiniano fecha depois do corte de fornecimento de Israel. Netanyahu e oposição formam Governo de emergência.
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É a única central elétrica na Faixa de Gaza e ficou hoje sem combustível, depois do corte de fornecimento determinado por Israel, na sequência dos ataques de sábado perpetrados pela organização palestiniana Hamas. No pequeno enclave - com 365 quilómetros quadrados e mais de dois milhões de habitantes - sobram apenas geradores para alimentar o território, também eles dependentes do cada vez mais escasso combustível. Numa altura em que se contabilizam 1200 mortos e mais de 2700 feridos em Israel e pelo menos 1100 mortos e mais de 5300 feridos na Faixa de Gaza, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, e o líder da oposição, Benny Gantz, concordaram em formar um Governo de unidade nacional de emergência.
“A única central elétrica na Faixa de Gaza foi encerrada às 14 horas locais [12 horas em Lisboa] devido à falta de combustível”, anunciou ontem o chefe da autoridade energética do enclave, Jalal Ismail, a que se seguiu a confirmação do Ministério da Energia de Gaza.
Com o encerramento da central, a Faixa de Gaza está condenada à ausência de eletricidade - o que impedirá o funcionamento de serviços vitais como os hospitais -, depois dos cortes de água e combustível, na sequência do cerco total ao território imposto por Israel, numa altura em que todos os pontos de passagem de Gaza estão igualmente encerrados, impossibilitando a fuga dos residentes.
Organizações não governamentais alertaram ontem para a grave situação humanitária na Faixa de Gaza, e apelaram à abertura de um corredor humanitário que permita a entrada de ajuda médica no enclave. “A situação é catastrófica. Não acho que ninguém esteja seguro em Gaza”, disse Sarah Chateau, responsável pelo programa palestiniano dos Médicos Sem Fronteiras (MSF). “Transferimos parte de nossas equipas para um edifício das Nações Unidas. O bombardeamento foi tão maciço que os riscos eram muito grandes”, acrescentou.
A ONG Médicos do Mundo alertou que “o transporte de doentes é reduzido com o bloqueio e a intensidade dos bombardeamentos”. “A nossa equipa está a lutar pela sobrevivência, é muito difícil conseguirem realizar o seu trabalho”, disse Jean-François Corty, vice-presidente da organização.
A relatora especial da ONU para os territórios palestinianos ocupados, Francesca Albanese, considerou que o cerco de Israel à Faixa de Gaza é ilegal, alegando que Israel deve defender os cidadãos dentro do próprio território: “O cerco é ilegal e a ocupação é ilegal. Tal como é ilegal na Crimeia e no Donbas [na Ucrânia], também a ocupação do território palestiniano é ilegal”.
Netanyahu tenta unificar o país
O antigo ministro da Defesa de Israel, Benny Gantz, membro da oposição ao Executivo de Benjamin Netanyahu, concordou em aderir a um Governo de emergência, em resposta ao apelo do atual primeiro-ministro para unificar um país com profundas fraturas internas, que conheceu ao longo deste ano uma contestação sem precedentes devido à controversa reforma judicial apresentada por Netanyahu, que reduz a autonomia do Supremo Tribunal.
Faixa de Gaza
Mais de 260 mil deslocados
A guerra entre Israel e o Hamas provocou mais de 260 mil deslocados na Faixa de Gaza, o enclave cercado e alvo da retaliação israelita ao ataque de sábado pelo grupo islamita, anunciou a ONU. As Nações Unidas tinham já registado mais de três mil deslocados no território “em resultado de anteriores escaladas”, antes de sábado, pelo que o total ascende a mais de 263 mil, segundo a AFP.
Jordânia envia ajuda humanitária
A Jordânia enviou ontem para o Egito o primeiro avião com ajuda humanitária com destino à Faixa de Gaza. A entrega desse apoio será feita por Rafah, única passagem de fronteira não controlada por Israel, disseram fontes humanitárias. A passagem de Rafah liga a península do Sinai, no Egito, ao enclave palestiniano.