Três pessoas foram mortas a tiro, sábado à tarde, na Quinta do Conde, em Sesimbra, e uma terceira ficou gravemente ferida, na sequência de mais uma desavença ente vizinhos por causa de um cão.
Corpo do artigo
As vítimas mortais são um militar da GNR da Quinta do Conde, um agente da PSP do Corpo de Segurança Pessoal que é motorista do gabinete de Pedro Passos Coelho e um filho seu. O ferido grave é o próprio homicida, que tentou suicidar-se com a espingarda caçadeira que usou para matar os três homens.
Um vizinho contou ao JN que o agente da PSP António Pereira, que teria 54 anos, e o seu filho, Diogo Pereira, de 23, chegavam do supermercado e descarregavam as compras na sua moradia, na Rua Alexandre Herculano, quando foram confrontados e atacados por Rogério Coelho, um construtor civil, de 77 anos. O septuagenário, apresentado por aquele vizinho como um homem "quezilento", era dono de um cão de pequeno porte e costumava implicar com o dos vizinhos, de raça rottweiler.
Vizinhos e amigos das vítimas do tiroteio estavam chocados com o sucedido, mas admitiram que o alegado autor dos disparos já tinha ameaçado fazê-lo.
Em declarações à agência Lusa, alguns vizinhos de uma das vítimas e do alegado autor dos disparos manifestaram-se chocados com o crime, mas revelaram a existência de algumas desavenças entre ambos.
"Aquilo que sabemos é que o senhor Rogério [autor dos disparos] já tinha ameaçado o vizinho de que o matava a ele e à família se o cão não deixasse de fazer barulho, mas nunca nos passou pela cabeça que o fizesse mesmo", referiu uma vizinha, que não se quis identificar.
Eram cerca de 17 horas quando os primeiros crimes foram cometidos, mas, sábado à noite, ainda não se conheciam as exatas circunstâncias que levaram Rogério Coelho a avançar sobre os vizinhos. Ao que tudo indica, o construtor civil atacou pai e filho de uma vez. "Estava em casa quando ouvi vários disparos", contou uma vizinha do homicida, que foi logo à janela e já deu conta de dois homens caídos no chão.
António Pereira, agente da PSP que era motorista do gabinete do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e condutor pessoal do respetivo assessor militar, morreu ali mesmo. O filho foi atingido na cabeça mas estava vivo, e ainda chamou e tentou socorrer o pai.
Várias pessoas telefonaram para o 112. Minutos depois, chegava ao local uma patrulha da GNR da Quinta do Conde, composta por uma mulher e um homem. Este saiu do carro-patrulha, aproximou-se das duas vítimas e baixou-se, quando se ouviu um grito de alerta de um popular. Rogério Coelho aparecera à janela de sua casa e preparava-se para abrir fogo mais uma vez, e aquele popular tentava avisar o guarda, mas já não foi a tempo. "O guarda foi atingido na cabeça", contou um morador da Quinta do Conde, que pediu anonimato.
A colega do militar da GNR ainda tentou socorrer o guarda atingido, mas teve de se esconder, devido aos disparos, e pediu reforços. Uma força da Guarda deslocou-se, então, para o local. Rogério Coelho estava fechado dentro de casa e, nesses instantes, ouviu-se mais um disparo. Os militares entraram na habitação e encontraram-no ferido na face. O septuagenário disparara a caçadeira contra o seu queixo, de baixo para cima. Desfez o maxilar inferior, mas os chumbos não lhe terão atingido o cérebro. Foi transportado para o Hospital de São Bernardo, em Setúbal,onde se encontra em situação estável.
Os bombeiros, que chegaram ao local sensivelmente ao mesmo tempo que o carro-patrulha da GNR, também levaram Diogo Pereira para o Hospital de São Bernardo. O ex aluno do Colégio Militar deu entrada na Urgência por volta das 19 horas, e a sua namorada foi informada de que ele tinha sido atingido de raspão. Quando lhe comunicaram o óbito do namorado, hora e meia depois, colapsou em lágrimas nos braços de agentes da PSP que se deslocaram até ali numa viatura descaracterizada.