O surto do vírus Ébola que atinge a Guiné Conacri já fez 84 vítimas mortais, informou est quinta-feira a organização Médicos Sem Fronteiras, no mesmo dia em que as autoridades da Libéria admitem um possível novo foco da doença.
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"Até ao momento, as autoridades sanitárias da Guiné Conacri informaram da existência de 134 casos suspeitos [registados desde janeiro] e 84 mortes", indicou a organização humanitária num comunicado emitido a partir da capital, Conacri.
Os casos foram detetados essencialmente nos distritos da região sul do país, perto da fronteira com a Libéria.
"Os nossos esforços estão centrados na contenção da epidemia, que é realizada através da identificação do doente e do seu isolamento do resto da população", assinalou Anja Wolz, coordenadora de emergências da MSF em Conacri.
"Embora não exista uma cura para esta doença, é possível reduzir a sua alta mortalidade abordando os sintomas", referiu Wolz.
A MSF recordou que o surto que atinge a Guiné Conacri é "da estripe Zaire do vírus Ébola [a mais agressiva e mortal]", que pode alcançar um índice de mortalidade até 90 por cento.
No entanto, os doentes que recebem assistência médica têm "entre 10 a 15 por cento mais de probabilidades de sobreviver", afirmou Michel Van Herp, epidemiologista da Médicos Sem Fronteiras (MSF) a trabalhar na Guiné Conacri.
Vários casos suspeitos de febre hemorrágica, alguns mortais, já foram assinalados na Libéria (dois casos) e na Serra Leoa (dois casos), todos com contaminações originárias da Guiné Conacri.
Mas o Ministério da Saúde da Libéria anunciou hoje a descoberta perto da localidade de Tapeta, na região de Nimba (leste), de um novo caso suspeito que, ao contrário dos anteriores, não tem qualquer ligação com a Guiné Conacri, indicando uma possível e preocupante evolução da situação epidemiológica na África Ocidental.
Trata-se de um caçador "que não teve qualquer contacto com alguém proveniente da Guiné Conacri", disse à agência francesa AFP a chefe do serviço médico da Libéria e responsável do Ministério da Saúde, Bernice Dahn.
"Ele não teve qualquer interação com uma pessoa suspeita de transportar o vírus" Ébola e "nunca foi à Guiné Conacri, é um caso isolado", acrescentou.
Na Serra Leoa, que como a Libéria faz fronteira com a Guiné Conacri, os dois casos identificados acabaram por ser fatais.
O vírus Ébola, que surgiu pela primeira vez em 1976 no Zaire [atual República Democrática do Congo] e no Sudão, é transmissível por contacto direto com o sangue, fluidos e tecidos corporais de pessoas ou animais infetados.
Na passada segunda-feira, a MSF considerou o surto de Ébola na Guiné-Conacri como "uma epidemia sem precedentes".