<p>Carlos Santos Ferreira, presidente do BCP, ter-se-á oferecido à administração norte-americana para dar informações sobre actividades financeiras do Irão. É a mais recente suspeita levantada por documentos do Wikileaks, revelados no sítio electrónico do "El Pais".</p>
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Segundo telegrama emitido pela embaixada dos Estados Unidos em Lisboa a 2 de Fevereiro deste ano, que o diário espanhol reproduz, o banqueiro terá proposto o trabalho de "espionagem" - incluindo franquear o acesso a contas iranianas no BCP - a troco de dar curso a negócios com a República Islâmica, que enfrenta um embargo económico da União Europeia e sanções da ONU.
O telegrama não é explícito quanto ao conhecimento que o Governo português teria de tais movimentações. Afirma apenas que o BCP informou José Sócrates e o governador do Banco de Portugal [então Vítor Constâncio] do interesse iraniano em "estabelecer uma relação com o Millennium". Contactado pelo JN, o gabinete de Sócrates desmente categoricamente: "O primeiro-ministro não tem, nem nunca teve, conhecimento de qualquer actividade do BCP no Irão".
A missiva diplomática, sobre cujo conteúdo fonte oficial do BCP recusa tecer comentários, alude à visita ao Irão de uma delegação do banco, em Abril de 2009, a convite das autoridades do país, interessadas em estabecerem uma relação comercial com o banco. Nela terão participado o administrador José João Guilherme e Duarte Pitta Ferraz, director do departamento internacional. Terão reunido com responsáveis de vários bancos e da própria embaixada de Portugal, para avaliar como concretizar negócios sem pôr em causa os mecanismos criados para pressionar o regime de Ahmadinejad.
No início deste ano, Santos Ferreira terá oferecido os seus préstimos à embaixada dos EUA em Lisboa. De acordo com o telegrama, um diplomata do Ministério dos Negócios Estrangeiros informou os norte-americanos de que Portugal, embora não queira aprofundar relações económicas com o Irão, não descarta a hipótese de futuros investimentos.
A ligação de Santos Ferreira à Fundição de Oeiras, fábrica estatal já encerrada, como presidente da administração, entre 1987 e 89, também é citada. Segundo o telegrama, o banqueiro lembrou que a empresa vendeu apetrechos militares ao Irão. O "El Pais" estabece a conexão com a polémica suscitada em Portugal pela venda de armas a Teerão, nos anos 80, quando estava em guerra com o Iraque. E alude às suspeitas levantadas pelo mais recente livro de Freitas do Amaral sobre o papel que tais negócios terão tido no atentado - é essa a sua tese - que há 30 anos vitimou o primeiro-ministro Sá Carneiro e o então ministro da Defesa, Amaro da Costa.