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Oenvenenamento do ex-espião russo Alexander Litvinenko trouxe ontem certezas e denúncias. A sua mulher acusou as autoridades russas de o terem matado. A Polícia alemã confirmou a existência da substância radioactiva que o matou (polónio 210) no sofá onde dormiu o empresário russo, Dimitri Kotvun, que com ele reuniu e está em coma desde a passada quinta-feira. E a Polícia britânica admitiu que dois dos seus políticas também estão infectados com aquela substância radioactiva.
O que se mantém em segredo é a razão da morte do ex-agente secreto Litvinenko, que a Polícia do Reino Unido admite ter sido assassinado.
"Obviamente, não foi o presidente Putin que o matou", afirmou Marina Litvinenko, 44 anos, na entrevista publicada ontem pelo jornal britânico "The Daily Mail". "Mas o que o presidente faz à sua volta, na Rússia, possibilita matar um britânico em território britânico. Acho que podem ter sido as autoridades russas a matá-lo", acrescentou.
Marina disse que o marido chegou a casa depois de duas reuniões no passado dia 1 de Novembro, no Hotel Millenium, em Londres, e começou a vomitar quase de meia em meia hora. "Parece que alguém me envenenou. Aprendi isso na escola militar", disse então Litvinenko à mulher.
No terceiro dia, acrescentou Marina, o marido dizia que tinha medo de deixar de respirar. "Estava desesperado. Queria as janelas todas abertas". No dia 23, morreu num hospital londrino, intoxicado com polónio 210.
Noutra entrevista, ao "Sunday Times", Marina, que admitiu que Litvinenko dizia estar tranquilo no Reino Unido, para onde foi viver depois de abandonar a Rússia, em 2000, confirmou que o seu marido "tinha inimigos, mas nunca pensou que eram capazes de o matar de uma maneira tão cruel".
A Polícia britânica, que foi a Moscovo seguir a pista dos homens que reuniram no Hotel Millenium com Litvinenko - que responsabilizou, numa carta, o presidente Putin pela sua morte -, tem recebido ajuda das autoridades alemãs que ontem confirmaram haver polónio 210 no sofá onde dormiu Dmitri Kotvun na casa da sua ex-mulher, em Hamburgo. Kotvun, de acordo com a reconstrução policial, deslocou-se de Moscovo a Hamburgo no passado dia 28 de Outubro. Antes de ir para Londres reunir com Litvinenko, dormiu no sofá da sala da casa da ex-mulher, desabitada há cerca de um ano.
Entretanto, os amigos próximos de Litvinenko exigiram, ontem, à Polícia britânica garantias de segurança e afirmaram que não falarão aos investigadores russos sem autorização das autoridades britânicas.