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Uma cólica de rins é apenas sintoma e não a doença. Se passar com injecções ou com a expulsão das "pedras", isso não quer dizer que o problema ficou resolvido. Doentes e muitos médicos não levam isso em conta, o que pode conduzir ao agravamento das causas, implicando a dependência da hemodiálise e até o transplante. Uma investigação sobre esses riscos mereceu o Prémio de Medicina Clínica, hoje entregue a dois médicos pela Fundação Bial, que, na mesma cerimónia, divulga o vencedor do seu Grande Prémio de Medicina.
Dois médicos nefrologistas, Adelaide de Lima Serra e Fernando Domingos, são hoje distinguidos por um estudo de sete anos, cujo objectivo foi o de entender a razão de muitos doentes terem crises repetidas de pedras nos rins, apesar de serem submetidos a litotrícia (técnica que reduz a areias essas pedras, para facilitar a expulsão). A conclusão a que chegaram foi que 73% dos doentes já antes referenciados à consulta de nefrologia surgiam com nova crise na consulta de nefrolitíase do serviço de Nefrologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa.
Da observação feita, os dois médicos, com a colaboração de Conceição Salgueiro, do laboratório ligado ao mesmo serviço, verificaram que apenas 5,9% dos doentes tinham sido sujeitos a tentativas de prevenir novos episódios de crise renal. Outros 21% haviam sido tratados com medidas urológicas, (cirurgia ou litotrícia), devido a complicações depois da crise.
Segundo os dois nefrologistas, a cólica renal não é das situações mais frequentes nas consultas de nefrologia de um hospital (no caso estudado, elas correspondem a 17%). Esta é uma situação considerada benigna, mas regista, na maior parte dos doentes, episódios repetidos. E, quando assim é, pode haver problemas graves. A cólica é um sintoma de que algo está errado no organismo, segundo sublinham os especialistas Adelaide de Lima Serra e Fernando Domingos. O seu não tratamento pode acarretar hipertensão arterial e osteoporose, entre outros problemas aparentemente não associados, bem como à perda da função renal.
Os investigadores constaram mesmo casos de pessoas que tiveram de tirar um rim, devido à formação de pedras não objecto de tratamento preventivo. Presentemente nenhum hospital do país tem consulta de Nefrolitíase, sendo que as consultas de Nefrologia estão mais vocacionadas para a insuficiência renal crónica e para o transplante.