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Bastaria o parque e as suas muitas espécies vegetais trazidas de terras longínquas para dar por bem empregue a subida à serra de Sintra. Mas neste caso, e como brinde suplementar (que será, contudo, na enorme maioria dos casos a razão primeira da visita), há o Palácio da Pena, delirante quanto baste na sua gramática romântica e com um definitivo aparato de ficção de príncipes e princesas.
D. Fernando de Saxe Cobrugo- -Gotha, príncipe alemão que viria a ser o "rei" da rainha D. Maria II, e, logo, D.Fernando II , é o culpado desta "maravilha" portuguesa. O terceiro quartel do séc. XIX foi a data do arranque da obra, erguida a partir das ruínas de um antigo convento. É, aliás, na zona do claustro que a parte mais íntima do palácio responde à ideia do "lar doce lar", relativamente modesto no tamanho de antigas celas reconvertidas em quartos de dormir para as cabeças coroadas e seus mais directos "criados", sala de jantar e outras dependências menores. Os cuidados da oração ficaram também garantidos com a recuperação, na mesma zona do futuro palácio. O Palácio Nacional da Pena, de seu nome formal, constitui uma das expressões máximas do romantismo aplicado ao património edificado no séc. XIX em Portugal. D. Fernando de Saxe Coburgo-Gotha, que casou com a rainha D. Maria II, em 1836, era dotado de uma educação muito completa. O futuro D. Fernando II, tal como muitos outros de que a História não reza, caiu de amores por Sintra. Um dia "tropeçou" nas ruínas do antigo convento de frades hieronimitas, originalmente construído no reinado de D. João II e substancialmente transformado por D. Manuel I que, ao cumprir uma promessa, o mandou reconstruir em pedra, em louvor de Nossa Senhora da Pena, doando-o novamente à ordem dos monges de S. Jerónimo.
Mais tarde, o terramoto de 1755, que devastou Lisboa e toda a região circundante, também deixou o convento da Pena em ruínas. Apenas a capela, na zona do altar-mor, com o belo retábulo de mármore e alabastro atribuído a Nicolau de Chanterenne, permaneceu intacto. Foram estas ruínas, no topo escarpado da serra de Sintra, que fizeram "clic" no jovem príncipe D. Fernando, que, em 1838, decidiu adquirir o velho convento, a cerca envolvente, o Castelo dos Mouros e outras quintas e matas circundantes. Assim começou um sonho romântico que não seria apenas sonho - reconstruir o antigo convento e anexar-lhe uma parte nova para complemento da que viria a ser a residência de Verão da família real portuguesa.
Ao mesmo tempo, D. Ferrando II mandou plantar um magnífico parque ao gosto inglês, com espécies arbóreas muito variadas um pouco de todo o Mundo. Parque e palácio são uma espécie de cara e coroa. O edifício exibe uma profusão de estilos (neogótico, neomanuelino, neo-islâmico, neo-renascentista...), num movimento de volumes que constitui um ensaio de arquitectura invulgar.
Nos últimos anos, o IPPAR tem vindo a desenvolver um programa de restauro e de valorização que permitiu a consolidação estrutural de todo o edifício, a pintura integral do conjunto com as cores originais.
A janela que mima a de Tomar
A célebre janela do Convento de Cristo de Tomar tem na Pena uma reinterpretação, discretamente colocada na zona do Pátio dos Arcos, nas traseiras do edifício. É mais uma prova do carácter ecléctico do monumento, que junta, aos restos do convento (e onde decorria a vida mais privada dos moradores ), as alas novas mais sumptuosas e definitivamente elementos de representação do poder. Esta janela é prova, segundo diz o director do Palácio, José Martins Carneiro, do gosto de D. Fernando II pela citação.
Um conto de fadas no alto da serra
Onde havia uma ruína de um convento, D. Fernando II fez crescer um palácio que nada deve aos de Luís da Baviera, que só começariam a ser construídos 30 anos depois. Recuperou o que pôde do convento e fez crescer novas alas. E aí deixou explícito o seu apreço pela memória do património: o novo e o reaproveitado sempre tiveram cores diferentes
É preciso tempo para uma visita proveitosa
Entre as 10 e as 17,30 horas, excepto às segundas-feiras, as portas estão abertas. O preço é de 7 euros. A hora-limite de entrada é as cinco da tarde, mas quem decidir entrar quase na hora do fecho só fica com meia hora para visitar o parque e o palácio. Tarefa impossível e desaconselhada.
Número de visitantes sempre a crescer
Em 2005, contabilizou 331 094 entradas, número apreciável tendo em conta que não fica a caminho de coisa nenhuma: cada visita é um acto voluntário explícito. No ano passado, esse número subiu para os 385 699 visitantes. Os munícipes têm entrada grátis, mas só aos domingos de manhã.