Festival Internacional de Órgão e Música Sacra, em setembro e outubro, poderá ser o pontapé de saída para colocar a cidade na rota dos grandes eventos e de candidatura a Património Mundial.
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O repto foi lançado pelo próprio presidente da Câmara do Porto: "Dada a quantidade e qualidade de órgãos de tubos que tem a cidade, pergunto se não seria a altura certa para apresentar uma candidatura deste espólio a Património Mundial?". Ideia que é bem recebida pelo mestre de capela e organista titular da Igreja de Nossa Senhora da Lapa no Porto, Filipe Veríssimo, impulsionador do Festival Internacional de Órgão e Música Sacra, que ocorrerá em setembro e outubro.
Há pouco mais de dez anos foi realizado um inventário de órgãos. "Foram apontados 34 construídos entre o século XVIII e a primeira metade do século XX. Desses, 60% estavam em mau estado de conservação ou em ruína. Alguns foram recuperados", explica o organista, esperando que do festival saia a possibilidade de se organizar um roteiro no qual todo o espólio da cidade seja visitável.
"O Porto tem excelentes condições e um vasto património e a sua classificação como Património da Humanidade seria uma forma de criar toda uma dinâmica cultural na cidade e de atrair gente de todo o Mundo", refere o organista e responsável pela empresa Catorze de Outubro - Suites & Events, que realizará o festival.
O evento receberá um apoio da autarquia e foi nesse âmbito, durante a aprovação em reunião de Câmara da ajuda de 23,2 mil euros que Rui Moreira lançou o desafio, justificando que "o Festival Internacional de Órgão e Música Sacra assume-se como uma oportunidade única de promover a região e a cultura portuense e portuguesa no Mundo, tendo a sua primeira edição sido realizada em 2015". Nessa altura, foi fundamental o empenho de Paulo Cunha e Silva, então vereador da Cultura, que será agora homenageado no segundo evento.
Para trás fica também todo o "importante trabalho" desenvolvido pelo cónego Ferreira dos Santos. "É graças a ele que a cidade tem hoje quatro grandes órgãos de tubos, um património notável onde é possível executar o repertório de grandes compositores", explica Filipe Veríssimo. O primeiro surgiu em 1985 na Sé Catedral, seguindo-se os da Igreja da Lapa (1995), da Igreja de Nossa Senhora da Conceição/Marquês (1998) e, por fim, o da Igreja de Cedofeita (2000). Órgãos recentes, "mas já antigos", a que se juntam muitos outros clássicos espalhados pelas igrejas portuenses.
Grandes organistas atuaram nestes quatro grandes órgãos, tendo a atividade desses anos despertado muita curiosidade na juventude que acabou formada na área. "Temos pessoas altamente especializadas, mas que não tocam com frequência por não haver programação contínua, o que os empurra para o ensino", acrescenta Filipe Veríssimo.
155 órgãos no distrito
"Queremos que o evento seja ainda um pontapé de saída para uma programação constante para que haja, pelo menos, um grande concerto por mês, não só no Porto, mas noutras cidades da área metropolitana", acrescenta. O próprio Festival Internacional de Órgão e Música Sacra não se centrará só no Porto e o programa estende-se à Maia, a Valongo, a Gondomar, a Gaia e a Matosinhos.
Em todo o distrito existem 115 órgãos e muitas curiosidades, como os dois órgãos clássicos (para além do grande) que existem na capela-mor da Sé. Um do lado do Evangelho, de tipo ibérico, porque "os órgãos também têm sotaque", construído em 1726. E do, lado da Epístola, um seu gémeo, mas entretanto ampliado para se adaptar a novas sonoridades. "Lindíssimo" está o da Igreja de Santa Clara, após restauro.
É no Porto que está a grande maioria destes instrumentos do distrito mas, apesar de ser um dos três concelhos com mais extenso portefólio de instrumentos do género em Portugal, a cidade não tem nenhum curso para jovens interessados em seguir a carreira.
O Curso Superior de Música Sacra e Órgão da Universidade Católica do Porto "foi uma oportunidade perdida". Quem quiser ter formação superior terá de procurar Lisboa ou Aveiro, mas, de acordo com o mestre de capela da Lapa, existe a possibilidade de, em breve, a área ser lecionada na Escola Superior de Música do Porto.
Na Lapa, os tubos são retirados um a um para serem limpos. A vontade é que em eventos futuros deles seja diretamente servido vinho do Porto, tal como aconteceu na inauguração.