Talão seria usado nas novas datas ou convertido em dinheiro apenas depois do evento se realizar.
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Os principais promotores de espetáculos e festivais de verão apresentar à ministra da Cultura, esta semana, um conjunto de medidas para ajudar o setor. Entre elas está a criação de um voucher que seria entregue a quem comprou bilhetes para festivais de verão cancelados.
Segundo a proposta da Associação de Promotores, Espetáculos, Festivais e Eventos (APEFE), a que o JN teve acesso, trata-se de um talão que assegura a entrada na nova data do evento. Se não for utilizado, o valor do voucher pode ser levantado. Neste caso, a troca por dinheiro só seria possível depois da nova data do festival (com limite até ao final de 2021). Os promotores estão dispostos a assegurar uma exceção: quem já comprou bilhete e estiver desempregado, terá direito a devolução da verba do bilhete no imediato.
Álvaro Covões, organizador do Nos Alive e representante da APEFE, que ontem foi uma das associações ligadas à Cultura recebidas pelo presidente da República (ver caixa), deu conta que a indústria só tem um de dois caminhos para sobreviver: "Ou nos deixam trabalhar, sempre em condições de segurança, obviamente, ou nos apoiam para termos a atividade parada", revelou, ao JN.
A troca de bilhetes por vouchers foi uma das matérias abordadas, confirmou Covões, que disse que a medida já está a acontecer em "todos os países onde os governos decidiram que não podem haver grandes espetáculos até uma determinada data". Para a APEFE, os vouchers podem ser decisivos: "Como muitas empresas estão sem fluxos de caixa, a política de reembolso pode ser fatal".
Na prática, os vouchers seriam a forma de ultrapassar a disposição legal em vigor, que obriga a que todos os espetáculos culturais cancelados devolvam o valor do ingresso no prazo de 60 dias. Só se o evento tiver nova data é que o promotor não é obrigado a reembolsar, caso o realize no prazo de um ano.
Porém, muitas promotoras, depois de já terem gastos consideráveis com a organização dos eventos (pagamento de sinal aos artistas, por exemplo), estão com dificuldades para devolver o valor dos bilhetes.
A APEFE pediu ainda ao Governo que definisse quais os eventos que podem ou não acontecer, uma vez que o atual período de estado de emergência está a terminar e alguns podem ter de cancelar sem poderem alegar um motivo de força maior, o que lhes traria ainda mais despesas. Atualmente, todos estão na iminência de ver proibida a sua realização, à semelhança do que se está a passar na Europa.
Cancelamentos europeus
Recorde-se que os principais festivais da Europa estão a ser cancelados e muitos partilham nomes com eventos nacionais, o que pode levar ao cancelamento de digressões, deixando em risco a realização dos eventos portugueses.
Anteontem, a Irlanda cancelou todos até setembro, incluindo o Longitude, onde iam estar Kendrick Lamar (no cartaz do NOS Alive), Tyler, the Creator (NOS Primavera Sound) ou Young Thug (agendado para o Rolling Loud). Na mesma situação, estão também o dinamarquês Roskilde, os britânicos Download e BST Hyde Park, ou o francês Hellfest.
Em Portugal, já foram adiados o North Music Festival, o Boom, o Músicas do Mundo e o Rock in Rio, todos para 2021, bem como o Nos Primavera Sound, para setembro deste ano.
Cultura foi a Belém pedir apoio a Marcelo
O presidente da República recebeu ontem 10 associações representantes da Cultura, que foram ao Palácio de Belém dar conta das graves dificuldades que o setor atravessa.
As editoras de livros, através da APEL,e as LivrariasIndependentes, sublinharam os prejuízos e o risco que muitas correm de encerrar. Marcelo recebeu estruturas como a Sociedade Portuguesa de Autores, a Associação Portuguesa de Museologia, a Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea, a Associação para as Artes Performativas em Portugal ou a Academia Portuguesa de Cinema.