Partilhava a paixão pela poesia com quem se cruzava, até mesmo com os passageiros do táxi que conduzia há mais de três décadas. José Barreto, o taxista-poeta que o "Jornal de Notícias" deu a conhecer aos seus leitores há dois anos, faleceu no final da semana passada, aos 64 anos.
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Através da poesia, dizia ser capaz de exprimir o que de outro modo ficaria para sempre guardado dentro de si. Assim que descobriu o gosto pela palavra poética, há 20 anos, José Barreto fez questão de mostrá-lo a todos com quem se cruzava.
Aos passageiros do táxi que conduzia pelas ruas do Porto há mais de 30 anos, aos colegas e amigos durante os convívios ou até em ambiente familiar,
"Cada poema que escrevo é como se fosse um filho", afirmou ao repórter do "Jornal de Notícias" há dois anos, num artigo centrado na sua veia poética, em que recordava a emoção sentida quando leu os seus textos em público pela primeira vez, no conhecido Café Pinguim.
Apesar de resistir a intitular-se de poeta, fazia questão de estar sempre munido de papel e caneta, não fosse a inspiração apanhá-lo desprevenido. Quase tudo servia de pretexto para a escrita, recorda quem com ele privou.
Das experiências do quotidiano aos lugares que percorria ao volante do seu táxi, a poesia era o seu concentrado de mundo. Com vista privilegiada para o Porto, a cidade em que viveu e amou. "És Porto graça / Porto poço de virtude / janela de cristal... vidraça / que Deus te não mude".
O sonho de ver-se publicado em livro ficou por cumprir, mas os familiares planeiam em breve reunir "as muitas centenas de poemas que deixou espalhados pela casa" num volume autónomo.
Atropelado a 25 de novembro, José Barreto foi hospitalizado de urgência, em virtude das múltiplas hemorragias sofridas, tendo falecido no último dia do ano. O funeral realiza-se nesta quarta-feira, às 10.30 horas, na igreja do Bonfim, no Porto.