Novo drama do autor italiano Matteo Garrone leva-nos a uma viagem pelo pesadelo da emigração clandestina. Estreia esta quinta-feira nos cinemas.
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Quase todos os dias nos chegam pela TV imagens lancinantes de barcos repletos de africanos que tentam chegar ao sul da Europa, via Mar Mediterrâneo, umas vezes em fuga de guerras que devastam os seus países, outras em busca de melhores condições de vida. Infelizmente, boa parte dos casos termina de forma trágica.
Temos acesso assim, através dessas imagens que servem os propósitos da informação-espetáculo, ao fim de um processo que começara, para cada um dos envolvidos, muitos milhares de quilómetros e muitas semanas antes, quase sempre em países da África subsaariana.
Quem são aqueles seres humanos que descobrimos em total desespero? De onde vieram e como conseguiram chegar ali? Quantos deixaram para trás? É a estas questões que tenta responder o impressionante “Eu, Capitão”, do italiano Matteo Garrone.
O filme teve estreia mundial em Veneza, onde Garrone venceu o Leão de Prata para melhor realizador e o protagonista, Seydou Sarr, venceu o prémio de jovem ator. Culminando um percurso importante no circuito dos festivais e na temporada de prémios, “Eu, Capitão” concorre ao Oscar de melhor filme internacional.
O drama conta a história de um jovem senegalês seduzido por um primo a tentar uma vida melhor na mítica Europa. Apesar de renitente em deixar a mãe, acaba por aceitar, de forma a poder regressar a casa mais tarde e cuidar da família.
Segue-se um percurso pejado de armadilhas, uma travessia do deserto implacável para quem ficar para trás, o abandono de quem lhes prometera uma viagem tranquila, a sobrevivência nos centros de detenção na Líbia, a procura de meios para finalmente entrar num barco e a terrível luta pela sobrevivência a bordo de uma embarcação sobrelotada.
Matteo Garrone, autor de “Gomorra”, “Dogman” e “Reality” , escreveu o guião com base em relatos verídicos, filmou no Senegal, Itália e Marrocos e oferece-nos, com a dimensão narrativa a que nos habitou, um épico comovente sobre uma personagem que, com a sua perseverança, passou de sobrevivente a capitão da sua vida.