Festival poveiro retoma formato 100% presencial. Até ao próximo sábado, 60 autores celebram as línguas ibéricas.
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Não é o mais antigo nem sequer o maior festival literário português, mas ainda assim o Correntes d"Escritas não deixa de ser um marco no panorama nacional. Para a generalidade do meio editorial, que acorre todos os anos em peso à Póvoa de Varzim, este evento criado no dealbar do milénio por Francisco Guedes para promover a escrita de expressão ibérica assinala de forma simbólica o arranque do ano literário.
São uma prova inequívoca disso mesmo as largas dezenas de títulos editados nesta altura para que possam ser apresentados ao longo dos seis dias do festival. Nesta 23.ª edição, que decorre entre esta terça-feira e domingo, o panorama de lançamentos é particularmente abundante, destacando-se os novos livros de Manuel Vilas ("Os beijos"), Álvaro Laborinho Lúcio ("As sombras de uma azinheira"), Aurelino Costa ("Amónio"), Adolfo Luxúria Canibal ("O crespos"), Manuel Jorge Marmelo ("A última curva do caminho") e Cláudia Lucas Chéu ("Ode triumphal à cona"). A propósito da recente reedição de "Morte no estádio", Francisco José Viegas vai falar também sobre os 30 anos de criação do inspetor Jaime Ramos.
Mais numerosa ainda é a lista de convidados. Nas seis dezenas de escritores presentes encontramos José Luís Peixoto, Gonçalo M. Tavares, Onjaki, Onésimo Teotónio Almeida ou Afonso Cruz, além de estreantes como Yara Monteiro e Francisca Camelo.
Uma das (poucas) novidades do programa é a substituição das tradicionais frases elípticas das mesas redondas por títulos de canções célebres. Será, pois, sob o mote de músicas de Caetano Veloso, Cesária Évora ou Chico Buarque que as conversas irão desenrolar-se, num evidente apelo à fusão de linguagens. E porque a formação de novos públicos sempre foi um dos objetivos do Correntes d"Escritas, estão previstas várias sessões com escritores nas escolas do concelho.
Se os animados diálogos são uma das marcas destes encontros, estão longe, todavia, de ser a única. Como nas edições anteriores, o programa prevê filmes ("O ano da morte de Ricardo Reis", adaptação de João Botelho do romance de José Saramago), exposições ("Parece um pássaro, mas é um pirilampo ou um louva-a-deus", de Valter Hugo Mãe) e performances ("Fonte interminável de simbolismo", de Frederico Dinis).
Reserva obrigatória
Dois anos depois de uma edição de má memória, marcada pela última aparição pública do popular escritor chileno Luis Sepúlveda, o Correntes volta ao formato 100% presencial.
Apesar disso, haverá regras específicas neste "regresso à normalidade possível", como sintetiza o vice-presidente da Câmara da Póvoa de Varzim, Luís Diamantino. Assim sendo, haverá circuitos de circulação, lugares marcados e a necessidade de marcação prévia dos bilhetes, que deverão ser levantados até duas horas antes das sessões.
Mesmo com estas limitações - a que se somava ainda a necessidade de apresentação do certificado digital, exigência que o Governo entretanto deixou cair -, o autarca poveiro saúda "o marco de esperança" deste regresso, ao permitir novas demonstrações de "afeto e cumplicidade entre escritores, editores, agentes literários, público e leitores".
Agenda
Quarta-feira 23
Conferência
Momento sempre muito aguardado, a conferência de abertura deste ano - às 15 horas, no Cine-Teatro Garrett - está a cargo do professor universitário Viriato Soromenho Marques. Os vencedores dos habituais prémios literários vão ser anunciados ao final da manhã.
Do dia destaca-se ainda a última mesa redonda, às 22 horas, em que participam os músicos Adolfo Luxúria Canibal, Fernando Ribeiro, Mafalda Veiga e Mú Mbana.
Quinta-feira 24
Lançamentos em série
A apresentação dos quatro novos títulos de poesia da Húmus é um dos pontos altos do dia. A sessão conta com a presença dos autores Aurelino Costa, Carlos Quiroga, Francisco Duarte Mangas e Pedro Teixeira Neves. Ainda nos lançamentos, vai ser apresentado, às 21.45 horas, o álbum "Saramago, os seus nomes", de Alejandro García Schnetzer e Ricardo Viel.
Sexta-feira 25
Edição em foco
Os editores Manuel Alberto Valente e Maria do Rosário Pedreira vão falar sobre a paixão comum pelos livros, na Fundação Dr. Luís Rainha, às 18 horas. À noite, Adolfo Luxúria Canibal protagoniza a performance de spoken word "Estilhaços".
Sábado 26
Sob o mote de Buarque
O célebre tema de Chico Buarque "Construção" serve de ponto de partida para uma mesa redonda matinal em que participam Dany Wambire, Elena Medel, Gonçalo M. Tavares e Salvador Santos.