“A Vida Luminosa”, filme de estreia de João Rosas, chega esta quinta-feira às salas de cinema.
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É sempre gratificante assistir à descoberta de um novo realizador, sobretudo no quadro de um cinema português que nos compete defender, na medida do possível, é claro, sem condescendências, mas com o espírito aberto a todas as suas origens.
Não é que João Rosas”, autor de “A Vida Luminosa”, seja um perfeito desconhecido. Vendo as suas curtas-metragens, “Entrecampos”, “Maria do Mar” e “Catavento”, percebia-se já que havia por ali muito talento e vontade de nos contar histórias. Mas a passagem para o formato de longa está cheio de escolhos, que João Rosas evitou com subtileza e talento.
O protagonista do filme, Nicolau, é interpretado por Francisco Melo, que João Rosas filmou desde os 11 anos, acompanhando-o ao longo das suas curtas. Agora, Francisco/Nicolau tem 24 anos, e os problemas habituais e normais dos jovens da sua idade, no mundo de hoje: insegurança, instabilidade familiar, falta de perspetivas profissionais, ilusões ou desilusões amorosas…
Mas desenganem-se os que já pensam em criticar antes de ver. “A Vida Luminosa” aborda estas questões mais pelo lado existencial e humano, logo universal, do que pela vertente sociológica.
O mesmo se passa aliás na relação com a cidade de Nicolau, e por interposta pessoa, de João Rosas. É que o realizador, lisboeta também, e apesar de ter exposto as suas preocupações com o caminho que a cidade tem levado nos últimos anos no documentário que antecedeu este filme, desde logo intitulado “A Morte de uma Cidade”, serve-se aqui de Lisboa numa ligação orgânica com as personagens, entre o desejo dos que veem e a vontade de partir dos que por lá estão.
O humor dos diálogos, a luminosidade da imagem, a espessura e os sonhos que se pressentem nos olhares das personagens tornam o filme uma experiência maravilhosa de cinema. Um potencial filme de culto. A partir de agora, somos todos Nicolau.