"Ponto de partida" é o disco que assinala os 25 anos da carreira do músico, já nas lojas e plataformas digitais.
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Chegou ao mundo da música com apenas 20 anos e fez este ano os 46: já consagrado, ainda inspirado, André Sardet comemora os 25 anos de carreira com "Ponto de partida", disco onde o tom não é a nostalgia do passado, mas os olhos postos no futuro. Com produção de Diogo Clemente, o álbum é marcado pelas colaborações de Bianca Barros, Agir, Carolina Deslandes e Jorge Palma, entre outros.
É irónico que um disco que celebra 25 anos de carreira se chame "Ponto de partida". Está nesse ponto inicial?
Chegado a este momento, havia a dúvida de que álbum devia gravar para os 25 anos. Muitos diziam um "best of", mas senti que não. Tentei encontrar um equilíbrio e projetar para a frente os próximos anos da minha carreira, ou seja: não quero que este seja um álbum saudosista, um balanço, quero que seja uma prova de vitalidade criativa. Chegar aos 25 anos e ambicionar que este álbum seja um ponto de partida é um bocado ousado mas ao mesmo tempo é o que reflete melhor o que quero que aconteça; que seja um olhar para o futuro e não para o passado.
Numa carreira com tantos discos, quão difícil foi escolher os temas que quis revisitar?
O álbum tem três temas não inéditos, os outros são inéditos. O primeiro single foi gravado com a Bianca Barros, o segundo é o "Foi feitiço" com a Carolina Deslandes: porque já passaram muitos anos desde o "boom" e eu achei que era importante ter várias gerações neste álbum. Quando se faz 25 anos já se passou por várias fases: já se foi promessa, emergente, a consagração e agora estou na fase de começar a ter alguns cabelos brancos. Então achei importante trazer um pouco dessas fases todas, ou seja, a Bianca é uma artista que está a começar, mas que eu sinto que tem muito talento. Tal como algumas pessoas me apoiaram no início, foi importante buscar uma artista que está a começar. Depois, a Carolina, que já está consagradíssima e que deu ao "Foi feitiço" uma nova alma. Há ainda o Jorge Palma, que é um sonho que fui adiando. Fui tendo vontade de o convidar, mas faltava a ousadia. Ele aceitou imediatamente e foi algo que me orgulha muito e que acho que vai surpreender as pessoas.
Tem músicas suas mais especiais, que o marcaram ou significam mais? Ou vão mudando?
Costumo dizer que elas todas são bem cá de dentro e portanto são todas especiais à sua maneira. O público faz com que algumas tenham mais destaque, mas eu canto com emoção e com verdade e algumas [mais especiais] nem são as mais conhecidas. Porque são marcantes de alguma forma, neste álbum tenho duas músicas: uma a olhar para o meu filho e outra a olhar para a minha filha. Isso torna-as muito especiais. Sei exatamente o que quero dizer - são os temas "Lembras-me um tempo" e o "Se eu te disser".
Começou com 20 anos, subiu a pulso num país onde nem sempre é fácil encontrar espaço. Quais foram os principais desafios que encontrou e como o moldaram?
A principal luta foi chegar aqui. Ponho-me a recordar os músicos talentosíssimos com quem me cruzei e que ficaram pelo caminho, e não são tão poucos. Aliás, eu diria que são muito poucos os que conseguiram, da minha geração.
E o que é diferenciador, como se consegue então?
Fiz uma opção há muitos anos, que foi não ter só a atividade da música. Tenho outras atividades, que me permitem não ter urgência de gravar um álbum, de uma grande tour. Há os que foram largando a música porque não conseguiam viver dela.
A própria música foi mudando, cada vez mais voltada para a plataformas digitais; como encara essas mudanças?
Eu próprio sou adepto das plataformas digitais. Tenho pena que as pessoas não leiam os booklets dos CD. Acho que hoje em dia liga-se pouco à letra; há uma relação mais superficial com a música. Disso tenho pena. Mas é uma coisa inevitável e é algo que já não vai andar para trás. Então, vamos para a frente. Eu próprio aderi e acho prático. E faz com que as pessoas tenham acesso a muito mais música do que antigamente. O que é bom e é mau: bom porque faz com que as pessoas tenham uma melhor cultura musical, mas é muito mais difícil para um artista chamar a atenção.