Ben Affleck ficou arredado do Oscar para Melhor Realizador - categoria para a qual não foi nomeado -, mas confirmou o favoritismo ao vencer a estatueta dourada para Melhor Filme. "A Vida de Pi" foi o filme que conquistou mais galardões, quatro, entre eles o de Melhor Realizador.
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Depois da temporada de prémios que antecede os Oscares, poucas são as surpresas no momento da entrega das estatuetas douradas. A 85.ª edição dos Oscares não foi exceção.
Seth MacFarlane, criador da série "Family Guy", foi o anfitrião da cerimónia deste ano, tarefa que desempenhou com muito humor ao longo das quase quatro horas que durou o evento.
Depois de ter vencido três Bafta - Melhor Filme, Realizador e Montagem; dois Globos de Ouro - Melhor Realizador e Melhor Filme-Drama; dois prémios da crítica - Melhor Filme e Melhor Realizador; e várias distinções por parte dos sindicatos de atores, realizadores, produtores e argumentistas, seria uma enorme surpresa se "Argo" deixasse escapar o Oscar de Melhor Filme para a concorrência.
Inesperado foi ouvir o nome do vencedor ser anunciado por Michelle Obama, a primeira-dama dos Estados Unidos da América, a partir da Casa Branca, uma opção que reforça a dimensão política e o enfoque dado à história norte-americana por muitos dos filmes nomeados.
No momento de receber o Oscar de Melhor Filme, Grant Heslov, um dos produtores de "Argo", a par de Ben Affleck e de George Clooney, fez questão de referir que tinha ao seu lado não só o produtor como o realizador do filme, deixando uma alfinetada à Academia por se ter esquecido de nomear Affleck para Melhor Realização.
O filme de Affleck venceu três dos sete galardões para que estava nomeado, juntando ao Oscar de Melhor Filme o de Melhor Argumento Adaptado e o de Melhor Montagem.
A história de um agente da CIA cuja criatividade permitiu resgatar seis funcionários da embaixada norte-americana em Teerão, em 1979, valeu a estatueta dourada ao argumentista Chris Terrio, que fez questão de dedicá-lo a Tony Mendez, o agente da CIA por detrás desta história verídica.
A cerimónia deste domingo consagrou também Ang Lee, que recebeu o segundo Oscar da carreira na categoria de Melhor Realizador, com a adaptação do livro de Yann Martel "A Vida de Pi". Esta era uma das categorias em que mais dúvidas existiam quando ao vencedor, sendo que Steven Spielberg, com "Lincoln", se afigurava o mais provável laureado.
"A Vida de Pi" foi o filme que mais galardões arrecadou na edição deste ano dos prémios da Academia, conquistando quatro dos 11 Oscares para que estava indicado - Melhor Realização, Melhor Fotografia, Melhores Efeitos Visuais e Melhor Banda Sonora Original.
Com 12 nomeações, "Lincoln" foi o grande derrotado da noite, vencendo apenas duas estatuetas, uma delas numa categoria técnica - Melhor Design de Produção.
O grande prémio de "Lincoln" foi para Daniel Day-Lewis, que confirmou todas as expectativas e conquistou o terceiro Oscar para Melhor Ator da sua carreira. O papel de Abraham Lincoln valeu-lhe um feito ímpar na história de Hollywood, sendo o primeiro ator de sempre a conquistar três estatuetas nesta categoria. Quando Lewis subiu ao palco, o público que assistia à cerimónia no Dolby Theatre levantou-se para o aplaudir.
Se a categoria de Melhor Ator não oferecia dúvidas, o mesmo não se pode dizer quanto à de Melhor Atriz. Jennifer Lawrence foi a laureada com o Oscar, deixando para trás Jessica Chastain ou a veterana Emmanuelle Riva. A protagonista de "Guia Para Um Final Feliz" subiu ao palco para receber o galardão com um ar surpreendido e sem fôlego, desfazendo-se em agradecimentos. Lawrence fez questão de dar os parabéns a Emmanuelle Riva, a protagonista de "Amor" - galardoado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro - que completou este domingo 86 anos.
Na categoria dos Atores Secundários, os galardões foram para Anne Hathaway e Christoph Waltz, por "Os Miseráveis" e "Django Libertado", respetivamente.
Esta foi a segunda vez que Waltz venceu um prémio com a interpretação de um personagem criado por Quentin Tarantino. Em 2009, havia vencido o Oscar de Melhor Ator Secundário com "Sacanas sem lei".
"Django Libertado" também valeu a Taratino o Oscar de Melhor Argumento Original. Ao receber o prémio, o realizador destacou a qualidade dos argumentos apresentados este ano: "Este foi o ano dos argumentistas", salientou.
Tom Hooper não conseguiu fazer de "Os Miseráveis" um sucesso na corrida aos Oscares, tendo conseguido, além do galardão de Melhor Atriz Secundária, o de Melhor Caracterização e Melhor Mistura de Som.
Um dos vencedores que mais surpresa gerou foi precisamente numa categoria técnica, com um empate para o Oscar de Melhores Efeitos Sonoros. "007 Skyfall", de Sam Mendes, e "0:30 Hora Negra", de Kathryn Bigelow, partilharam a distinção, um caso raro na atribuição dos prémios da Academia.
A música esteve em destaque na edição deste ano dos Oscares, que não só homenageou o género musical - com a interpretação em palco de canções dos musicais "Chicago", "Dreamgirls" ou do mais recente "Os Miseráveis" - , como brindou o público com as atuações de Shirley Bassey, Adele, Barbra Streisand e Norah Jones.
Shirley Bassey e Adele, duas das vozes das bandas sonoras dos filmes do 007, juntaram-se ao tributo que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas fez aos filmes do agente James Bond, que celebram 50 anos.
A 85.ª edição dos Oscares terminou com muito humor e com uma canção dedicada a todos os "perdedores" que não foram agraciados com uma estatueta dourada.