Projeto "Desencaminharte" faz intervenções artísticas em espaços inusitados em dez concelhos minhotos.
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Sobre uma enorme rocha, junto à Capela Senhora de Fátima, em Rendufe, Ponte de Lima, um elemento estranho sobressai na paisagem. Há quem pense que se trata de uma pedra preciosa gigante e de cor esverdeada, que parece ter sido ali colocada por alguém chegado de outro planeta. Outros, mais terrenos, mas não menos dados à imaginação e criatividade, vislumbram uma obra de arte. E assim é.
"Pedra sobre rocha", do artista plástico André Banha (Coruche), é uma das dez intervenções artísticas que foram realizadas em outros tantos locais inusitados do Alto Minho. Obras permanentes criadas no âmbito do projeto de arte pública "Desencaminharte", que já caminha para a terceira edição em 2020 (ver caixa), com o objetivo de descentralizar a arte, convidando artistas e arquitetos a intervir no território profundo.
André Banha descreve a sua insólita "pedra verde", em chapa metálica e vidro acrílico transparente como "um espaço de contemplação da paisagem, de abrigo".
A criação de espaços que convidam a contemplar em silêncio (ou ao som da água a correr) o território minhoto é o denominador comum na maioria das dez peças que agora povoam o Alto Minho rural.
Se subirmos ao Castro de São Caetano, em Longos Vales, Monção, encontramos "A Torre". Uma espécie de guarita contemporânea, com que o autor Miguel Seabra, do estúdio Still Urban Design (Porto), "convida à reinterpretação do património arqueológico e natural". A construção cilíndrica em betão armado e aço, com o interior pintado de verde elétrico, funciona como "um óculo" para o céu e para a terra.
Também implantada num ponto estratégico, junto ao Minho, em Lanhelas, Caminha, a peça "Abrigo" do coletivo FAHR 021.3 (Porto), "direciona o olhar para as águas do rio e para a outra margem, gerando na sua forma um espaço sagrado de contemplação e de retiro".
Em Ponte da Barca, a "Barca", de Pablo Pita (Porto), uma parede curva metalizada, com um banco no interior, convida a "um momento de contemplação e introspeção" na confluência dos rios Vade e Lima. E a "Janela", de João Mendes Ribeiro, exerce a mesma função, com dois bancos namoradeiras no miradouro da Senhora do Crasto em Deocriste, Viana.
Deste projeto de arte aplicada ao lugar fazem parte também peças como "A paisagem é", de Fernanda Fragateiro, em Sistelo, Arcos de Valdevez; "Sulco" do atelier depA, em Lamas de Mouro, Melgaço; "Ver através da árvore", de Dalila Gonçalves, em Romarigães, Paredes de Coura; ou "Porta-caça do Mosteiro de Sanfins", de Barão-Hutter, no Mosteiro de Sanfins, em Valença, e "Rasgo no solo do Parque de Lazer do Castelinho" de Gabriela Albergaria.
Projeto mais próximo das zonas urbanas em 2020
O projeto "Desencaminharte", criado pela Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho, deverá avançar para nova edição no próximo ano. Segundo o vice-presidente, Jorge Mendes, "a equipa já está a trabalhar para 2020, com o mesmo conceito de criar novas marcas na paisagem, mas desta vez em zonas mais próximas do tecido urbano ", disse.