Dan Deacon, The KVB, Health e a assombração Pharmakon: o cartaz dos esquisitos da última noite do festival teve boas recompensas
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Depois de ver a locomotiva Foxygen atravessar-nos a meio do último dia do festival, e Sam France à frente, gloriosamente furibundo a capitanear o fim dos Fogygen e a dar o peito todo ao abismo, aconteceram várias coisas entre seis concertos. Uma delas foi um equívoco: os The New Pornographers, Canadá, artrock, inalação power pop, supergrupo, não são os These New Puritans, de Essex, UK, do mesmo género mas graciosos e infecciosos.
Tocavam à mesma hora de Dan Deacon, o melhor concerto com 10 mil pessoas daquela noite. É adorável, Dan, tem 33 anos e veio ao Primavera apresentar novos veios IDM, em que ele controla na mão e num arquipélago de fios coloridos e botões os três elementos com que mexe no público: o crescendo, a pausa e depois a explosão. É eletrónica contemporânea fatal para a dança, com fatias absurdistas e é uma figura inteira Dan Deacon, camisa vermelha e branca à riscas barraca, de calções, meias vermelhas puxadas para cima e o ar de um professor de matemática de Maryland que veio de férias e decidiu desatar a vociferar ordens para dançarmos. E fez um número com um bêbado de avental perdido noutro planeta. O Palco Super Bock estava cheio e agradeceu a pista de dança, sedento que tinha ficado com os Ride.
Não tenho a certeza de que Ride, arqueologia britânica shoegaze e nostalgia tocadas ao vivo exatamente como esperaríamos que elas soassem quando as ouvimos há 20 anos, tenha sido um equívoco, mas houve uma debandada superior do Palco NOS à de My Blood Valentine de 2013 (que glorioso apocalipse foi MBV, continua nos melhores de sempre da história do Primavera). Como Damien Rice chamou até ao fim cinco vezes mais gente, foi ele o inesperado artista maior da noite antes de Underworld e do outro túnel do tempo que fechou o palco principal.
A seguir houve jóias, todas a merecer roubo de atenção. The KVB: fantasmas de kraut, Curtis e saídas de drone art noise, Nick Wood, emaranhado na guitarra, fuzzy e expressionista, e Kat Day, uma minissaia monumentalmente pequena, sandálias altas peeping toe e a melhor contraluz de pernas das noites do Primavera 2015, nas teclas) com um som colossal no ATP.
Health: são primos próximos dos Crystal Castles mas o seu jacto Califórnia, LA, é maior e traz energia drónica e comando ao neonoise. "Death magic", o disco novo que sai em Agosto para pistas de dança com arame farpado feito de néon branco gelo é um disco exaltante se for aquilo que ouvimos ali.
Pharmakon, projeto brutalista de noise da nova-iorquina Margaret Chardiet, que lutou contra Underworld, tem dois recordes: foi a mais nova, tem 22 anos, e foi a menos vista, com menos de 300 pessoas na tenda Pitchfork. O seu solo é feroz e draconiano, quase grotesco, mas horrivelmente romântico e abandonado, com ela assombrada a confrontar o palco todo, o cabelo loiro Poltergeist possuído a tapar-lhe a cara toda, a vociferar o cataclismo e o medo que lhe vem nas veias, até cair no meio de nós. Aparentemente é isto que acontece quando se levam bebés a ver concertos dos Nausea e dos Dead Boys. Foi uma encantadora assombração. - JMG
23h44 - Agora sem imprevistos, Death Cab For Cutie cumprem
Depois de terem visto o concerto cancelado em 2012 devido à forte chuva que alagou parte do palco principal, os Death Cab For Cutie regressaram a Portugal e atuaram numa noite amena, sem chuva, mas com muito boa disposição no palco Super Bock.
O imprevisto de 2012 foi recordado por Bem Gibbard logo no início do concerto: "Era suposto termos tocado aqui há três anos, estamos felizes por consegui-lo hoje. Está um grande ambiente, já estivemos a dar uma volta pelo recinto e é maravilhoso". Quanto ao concerto, os norte-americanos cumpriram. Não deslumbraram imenso, mas não esqueceram hits como "Meet Me On The Equinox" ou "Black Sun", ambos recentes.
22h23 - Damien Rice apaixonou última tarde do Primavera
Abraços na relva, beijos enamorados e sentimentos no expoente máximo. Foi assim que esteve o público no concerto de Damien Rice, um músico "de mão cheia" que conseguiu apaixonar todo o público com uma Lowden acústica dos anos 70 e uma voz que parece quebrar, o que nunca chega a acontecer.
O principal momento de magia do concerto foi, sem surpresa, "The Blower"s Daughter". A música batizada em português "É isso aí", por Ana Carolina e Seu Jorge, silenciou o palco NOS e fez elevar milhares de telemóveis que registaram o momento único no Porto. Aí, já a noite tinha chegado, apesar de o concerto ter começado com o sol alaranjado acima do Douro.
O público era maioritariamente feminino, a julgar pelos gritos das filas da frente, repletas de fãs que cantavam de cor todas as músicas do irlandês de 41 anos. Damien deixou o palco com um soberbo "loop" de "It Takes a Lot To Know a Man", perante aplausos de pé de toda a audiência. Até mesmo aqueles que momentos antes namoravam na relva se levantaram para aplaudir a emoção injetada pelo concerto. - DM
21h00 - Locomotiva Foxygen atravessa o Primavera
A banda californiana vai acabar, mas entregou o concerto mais enérgico que se viu no festival até à tarde do 3.º dia. Sam France, o elástico vocalista, vai deixar saudades.
Os Foxygen vão acabar - os Foxygen são uma tremenda máquina de space soul e R&B psicadélica que gosta de atiçar a postura pop - e seguramente por isso estão imparáveis: o seu set de 40 minutos + encore foi a maior correria de energia até agora vista no NOS Primavera Sound 2015, sem um único pingo de silêncio. A banda, que vem das Agoura Hills da Califórnia, é um octeto (três guitarras, teclas berrantes, baixo, bateria e três coristas vestidas de cheerleaders com coreografias delirantes e juveníssimas) e mais 1 e esse 1 faz toda a diferença porque ele é Sam France, o elástico vocalista exultante que é feito de 3 grandes partes inesgotáveis de energia: 1/3 de Mick Jagger, 1/3 de James Brown e 1/3 de Duracell. A sua voz é feita dessas mesmas medidas, troante e metálica. É um tremendo performer, parece uma espargata permanente a cair por todos os lados, esguio e muito alto num fato bege de mousse que acabou todos surrado porque ele não parava de saltar - nem quando esvaziou uma garrafa de Jamesson pela goelas diretas abaixo, de penalty. Só agora conhecemos Sam e já temos saudades dele. - JMG
20h40 - Primavera Sound anuncia recorde de público e datas do próximo ano
Passaram 77 mil pessoas pela quarta edição do festival. As declarações da organização podem ser encontradas aqui.
19h59 - Thurston Moore: Tempestade elétrica e saudades sónicas
Frequentemente solicitado por gente como Cat Power, PJ Harvey ou Smog, o baterista Jim White, dos Dirty Three, veio ao Primavera Sound acompanhado pelo alaudista grego George Xylouris.
Atuaram ao final da tarde no palco ATP perante umas 500 pessoas - a maior parte ainda estava por entrar no recinto e muitas preferiram ver Manel Cruz que atuava ao mesmo tempo. Ao longo de quase uma hora dispararam uma espécie de folk experimental com resquícios de jazz e muita desconstrução, que é aquilo que se ouve em "Goats", o primeiro e único álbum da dupla.
Thurston Moore foi um dos condutores dos Sonic Youth, provavelmente a banda do rock alternativo que recolheu maior unanimidade. Deixaram o planeta indie a chorar em 2011 quando anunciaram a desintegração. O guitarrista norte-americano veio ao Porto mostrar as peças de "The best day", recente disco em nome próprio. Não surpreendentemente é música que segue a escola sónica, onde a guitarra é quem mais ordena. Moore cumpriu, não desiludiu - mas o sentimento que fica e predomina no público é sobretudo uma enorme saudade dos Sonic Youth. - CP
19h13 - Concerto quente de Manel Cruz abriu último dia do Primavera Sound
Foi novamente em português que começaram os concertos do Primavera Sound.
Hoje, último dia do festival, coube a Manel Cruz a visita aos sucessos de algumas bancas do português, como Supernada e Pluto, num ambiente muito quente, não só pelos 26 graus de temperatura, mas também pelas harmonias no quarteto.
As formas de fazer música com instrumentos variados é uma imagem de marca de que o conjunto não abdica. Manel Cruz demorou oito músicas a ficar em tronco nú. Foi a preparação para "Sexo Mono", de Pluto, um dos melhores momentos do concerto. "Canção da canção triste" foi outro dos pontos altos, a par dos diálogos com o público nos intervalos de cada música, onde Manel Cruz até chegou a atirar garrafas de água para a audiência. - DM